Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Inventas o prazer nas folhas pergaminho do desejo,

há uma caneta de tinta permanente pronta em ti a escrever,

sombrear o teu corpo de espuma em finíssimos traços de madrugada,

há silêncio nas tuas pálpebras enquanto imagino o poema que vou declamar no teu olhar,

e a cidade adormece sobre o travesseiro da paixão,

inventas o amor, inventas-me na escuridão,

simplesmente... me inventas, fazes de mim uma triste flor, a palavra que teimo em não pronunciar,

inventas na minha boca as caricias infinitas dos círculos do amanhecer,

e depois,

e depois... e depois desapareces nos carris que o aço alimenta, e desenhas na parede do medo o ciume,

amar, não amar, ser amado... não ser amado, … sou eu,

inventas o prazer e o meu corpo é um esqueleto de veludo...

 

Um barco em esferovite das brincadeiras de menino,

inventas o prazer disfarçado de naftalina, dentro do armário apodrecido,

dás-me cigarros para eu fumar e fumo-os como se precisasse de fugir,

correr, subir a montanha... e voar em ti,

sorrir... dou-me conta que deixei de sorrir, de viver... como viviam os pássaros na aldeia,

inventas as bonecas que dormem nos musseques, e dos zincos telhados... a solidão,

há entre nós a melódica canção, o corpo mergulhado em lençóis de linho,

a janela de onde é impossível olhar o mar, o Mussulo... e a Baía,

Inventas-me nos quadriculados cadernos, fazes de mim uma equação trigonométrica,

sem resolução,

um barco, dizes-me que sou um barco...

que inventaste para te divertires enquanto não regressa a ti o sonho e a noite e a insónia toma conta dos teus lábios...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 15 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:54

Foto de: A&M ART and Photos

 

Preciso de um nome para saborear a tua pele,

qualquer um, apenas um nome, uma palavra, vã... uma palavra retirada da ardósia da tarde,

preciso de uma madrugada para pincelar o teu rosto no espelho do luar,

qualquer luar, qualquer noite construída do nada, uma só noite,

e quando amanhecer, finjo que sonho, finjo que no meu tecto habitam estrelas em papel,

finjo... finjo que do amor crescem palavras, e apenas uma será escrita na tua pele...

preciso de um corpo, preciso da tua pele que ilumina o teu corpo,

uma só, palavra, desenho, ou... ou som melódico como as árvores casadas,

e finjo, e sei que algures habitas nas janelas da cidade,

uma só palavra, uma só cidade,

preciso,

preciso de uma palavra, de um só nome, para ornamentar a tua pele de oiro...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 15 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:39

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