Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

29
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Ele tinha um coração em pedra, daquela pedra ínfima que alimenta os beijos nocturnos dos pássaros,

vinha a chuva, e viam-se-lhe as perdidas chapas de zinco nos pobres telhados da madrugada,

hoje, ele, hoje ele dispensa o significado da palavra “AMOR”, porque onde a tinha escrito, na folha caduca da árvore tombada, essa, essa... morreu, morreu a palavra... morreu a árvore tombada,

fingiam-se amantes abraçados aos pinheiros mansos no recreio da escola, e sempre, e sempre havia uma janela em ruínas, pedaços de lágrimas que sobejavam do sino da Igreja,

ao longe sentiam-se os feirantes que tudo vendiam, e de nada servia gritarem... “Vendem-se Beijos Embalsamados”, porque de beijos, nada, nem o vento, nem o triste amanhecer na boca dela,

 

Desenhei-lhe os lábios na esplanada do falso diamante,

escrevi nos seus seios “AMAVA-TE”..., hoje escrevo, não, hoje nada lhe escrevo, porque o amor desaparece e aparece como as sombras dos barcos em movimento,

recordo o púbis coloidal do imaginado olho de vidro, fundeado na minha mão,

a mesma que depois de suicidada, acariciava-te os esconderijos do néon vaginal,

e assim, ele tinha um coração em pedra, e assim... ele dorme sobre as candeias do luar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:24

foto de: A&M ART and Photos

 

O homem de negro aparece-lhe no sonho de papel,

apalpa-lhe o seio, acaricia-lhe as coxas diurnas da paixão,

ouvem-se os estilhaços de um corpo de porcelana,

um tiro de desejo, e “PUM”... a madrugada morre, e o homem de negro transforma-se em mão,

clandestina,

cinzenta,

o homem de negro é a escuridão,

e do espelho inseminado do prazer vêm os cintilantes corações de prata,

lá fora um letreiro grita “Hoje há moelas”, e a rua veste-se de transeunte mendigo,

e hoje, e hoje a mulher apalpada pelo homem de negro, dorme... tranquila, dorme docemente como as curvas esverdeadas dos olhos das searas em construção,

o homem..., o homem de negro, triste, desaparece quando alguém liga o interruptor do amor,

e um pedaço de aço incandescente poisa no seu ventre...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:40

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