Enquanto te absorves na banheira do prazer e te libertas das caricias minhas palavras,
eu, um incipiente nocturno das fábulas sem habitação, construo o teu corpo com a espuma imaginaria que poisa nos teus seios de marfim,
de escultor nada tenho,
e imagino-te pintada no poema cansado da madrugada,
enquanto te banhas e te absorves..., nada em ti eu desejo, porque a ténue luz do silêncio te come, e alimentas o olhar das personagens solitárias da cidade do caos...
a paixão embainha-se no cortinado que nos separa, eu de um lado, e tu... tu... mergulhada, molhada, à espera das minhas mãos sem rumo, como a geada quando esconde o sorriso dos loucos pássaros,
e eu, eu um incipiente nocturno das fábulas sem habitação,
Apaixonado?
talvez... talvez não,
porque sou um acorrentado ao cais dos sofridos beijos em noites de tristeza,
eu pregado à insónia?
talvez... talvez não,
porque não estando apaixonado, porque não sendo o perfume dos teus cabelos..., sou, sou um delinquente invisível do amor,
sou uma gaivota que levita quando desapareces do meu olhar e te transformas em rio,
e sei que o teu corpo fundeado na banheira do prazer... é um barco, um barco com nome de mulher...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Abril de 2014