Vivíamos sobre o traço invisível que separa a areia movediça do silêncio amanhecer,
colocávamos os pés na sombra da madrugada, ainda a crescer, menina, menina de lânguido sorriso,
menina de alegre olhar,
sonhávamos com flores que gritavam palavras antes de adormecerem,
e víamos na noite o corpo perfeito da solidão,
entranhava-se-nos e levitávamos como dois pássaros loucos,
procurando beijos,
pintando os lábios das amachucadas folhas de papel...
vivíamos sobre o traço invisível,
o dia e a noite num compartimento único, sem janelas, sem porta de entrada, sem... sem os seios das pétalas azuis depois do banho de espuma, não chovia, não... não pertencíamos ao mesmo círculo verde de olhos cinzentos,
e dormíamos sem sabermos se era dia,
noite, ou... ou apenas o espelho da saudade suspenso no tecto estrelado de uma caverna deixada ao abandono na montanha do adeus...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 10 de Março de 2014