Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

19
Abr 14

não percebo a prisão de vento que são os teus braços

quero voar... e não consigo subir à árvore do teu sorriso

planar no teu silêncio

não percebo as andorinhas do teu cabelo

parecem tristes

parecem aquilo que sou quando cessam todas as luzes

 

não percebo porque sou obrigado a sonhar

quando deveria navegar sobre um Oceano de insónia

não percebo as nuvens cinzentas das montanhas abandonadas

sem vida

sem... sem madrugadas

afinal... nada percebo e nada sei a teu respeito

 

percebo que vives

percebo que morrerás sem perceberes que eu já percebi... que aquela montanha é apenas uma sombra de olhos cerrados

não percebo os cigarros que vivem como se fossem palavras

palavras que se escrevem em ti

e de palavras será construída a tua lápide

quando acordar o Sol e eu talvez sentado sobre um pedaço de xisto esperando que acordes

 

não percebo a ausência dos calendários sem janelas

as ruas parecendo um jardim vestido de nus obscuros sons

um baterista esquecido num coreto de aldeia

e tu moves-te como se fosses um pedestal pesadíssimo

granítico

ignóbil cansaço nos teus braços que são uma prisão de vento.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 19 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:55

se o teu corpo fosse apenas uma palavra

uma flor solitária no jardim dos jasmins

uma estátua sem nome

sexo

ou idade...

se o teu corpo fosse a noite enfeitada com lantejoulas e alecrim

desconexo melódico das músicas sem anoitecer

conforme os sonhos da insónia

se o teu corpo fosse uma guitarra

uma bateria prisioneira num quinto andar com janelas para o Tejo...

um cacilheiro em combustão

procurando poemas

 

inventando livros nas mãos do silêncio

se o teu corpo fosse uma sinfonia de fotografias a preto-e-branco

nua

sexo

ou idade...

se o teu corpo habitasse na ponte do incenso

mergulhada na tristeza de um olhar pintado de verde

nua

sexo

ou... idade

se o teu corpo fosse um livro de ler

a lareira do Inverno recordando a saudade...

 

se o teu corpo existisse

tivesse vida como a vida das minhas personagens

se ele me dissesse que me amava

se o teu corpo fosse a jangada

a livraria enfeitada com o pó envenenado das sanzalas perdidas no Oceano...

nua

sexo

ou... idade

se o teu corpo falasse

gritasse

- eu estou apaixonada...

e eu acorrentava-me ao teu corpo com o nome de “palavra”...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 19 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 02:14

Participações de Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:52

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