perdi-me de ti enquanto voavam sobre nós as andorinhas de Maio
perdi-me de ti como se fosses uma boneca de porcelana
um fantasma esquecido na nossa cama
perdi-me de ti... perdi-me de ti quando acordava a madrugada
abriam-se as janelas do amanhecer
entrava em nós o vento agreste dos pedaços desassossegados que enfeitavam os teus desnudos ombros de árvore abandonada
perdi-me de ti como se perde uma criança na montanha
ou... ou quando morre uma gaivota vestida de palavras,
perdi-me de ti quando caminhavas entre sombras
e sons trazidos de uma Lisboa em tons de saudade
tinhas nos seios o silêncio do Tejo
e das tuas mãos
o meu esqueleto chapinhava nas rosas do jardim despovoado
havia no teu cabelo um marinheiro faminto
desgovernado...
perdi-me de ti sem perceber que existe um veleiro no meu peito,
sentado
esperava que acordassem as insignificantes lareiras do desejo
havia em ti um livro
um caderno
um... um beijo
havia em ti os lábios da noite que gritavam poesia
e eu
eu sentia... que... que me perdia de ti.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 6 de Maio de 2014