Das palavras que me obrigas a escrever
oiço-as em teu dedos pincelados nos pérfidos desejos
reescrevo-as
e desenho-as no teu corpo mergulhado na amarrotada pele de seda
das palavras que me obrigas...
escrevo-as
dito-as
e finjo estar acordado,
Sei que as tuas tristes sílabas vagueiam no meu peito
como sementes esquecidas no vento
sei que nos teus lábios habitam agulhas de algodão
que servem para afugentarem as minhas palavras,
Das palavras que me obrigas a escrever
elas se acorrentam aos meus braços
fazes de mim um prisioneiro vadio
ou uma árvore sem coração
só
correndo sob a neblina do teu olhar
delas
apenas o perfume do néon que a cidade engole,
Mulher prisão
mulher inseminada das minhas tristes palavras
mulher de negro
mulher... mulher paixão,
Das palavras minhas que que obrigas a escrever
faço-o apenas porque os meus dedos deambulam no nocturno Oceano
escrevo-as
apago-as
afogo-as como mágoas
as palavras
as palavras que me obrigas a escrever
eu as escrevo para te silenciar...
Há mendigos palavras
homens enlatados descendo a avenida
há as minhas malditas palavras...
delas e elas... as palavras sem comida,
Uma duas três tristes palavras
uma duas três quatro... quatro vogais descendo as tuas coxas de iodo
uma janela peneirenta
e uma porta de entra roxa
e há uma varanda onde tu lês as minhas tristes palavras
aquelas que me obrigas a escrever
a vomitar sobre as páginas de um rosto em sofrimento
das palavras que me obrigas a escrever,
Há palavras obrigadas a viver
dentro de mim
e por ti...
por ti menina das palavras...
Há palavras que eu não quero escrever
há escrever sem palavras que recuso ler
há a menina das palavras
com correntes em aço
palavras prisioneiras
palavras amaldiçoadas
palavras que o púbis da caligrafia
semeia no corpo da menina das palavras.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014