Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Mai 14

Das palavras que me obrigas a escrever

oiço-as em teu dedos pincelados nos pérfidos desejos

reescrevo-as

e desenho-as no teu corpo mergulhado na amarrotada pele de seda

das palavras que me obrigas...

escrevo-as

dito-as

e finjo estar acordado,

 

Sei que as tuas tristes sílabas vagueiam no meu peito

como sementes esquecidas no vento

sei que nos teus lábios habitam agulhas de algodão

que servem para afugentarem as minhas palavras,

 

Das palavras que me obrigas a escrever

elas se acorrentam aos meus braços

fazes de mim um prisioneiro vadio

ou uma árvore sem coração

correndo sob a neblina do teu olhar

delas

apenas o perfume do néon que a cidade engole,

 

Mulher prisão

mulher inseminada das minhas tristes palavras

mulher de negro

mulher... mulher paixão,

 

Das palavras minhas que que obrigas a escrever

faço-o apenas porque os meus dedos deambulam no nocturno Oceano

escrevo-as

apago-as

afogo-as como mágoas

as palavras

as palavras que me obrigas a escrever

eu as escrevo para te silenciar...

 

Há mendigos palavras

homens enlatados descendo a avenida

há as minhas malditas palavras...

delas e elas... as palavras sem comida,

 

Uma duas três tristes palavras

uma duas três quatro... quatro vogais descendo as tuas coxas de iodo

uma janela peneirenta

e uma porta de entra roxa

e há uma varanda onde tu lês as minhas tristes palavras

aquelas que me obrigas a escrever

a vomitar sobre as páginas de um rosto em sofrimento

das palavras que me obrigas a escrever,

 

Há palavras obrigadas a viver

dentro de mim

e por ti...

por ti menina das palavras...

 

Há palavras que eu não quero escrever

há escrever sem palavras que recuso ler

há a menina das palavras

com correntes em aço

palavras prisioneiras

palavras amaldiçoadas

palavras que o púbis da caligrafia

semeia no corpo da menina das palavras.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:57

Redefino-te entre os círculos do desejo

percebo das pálpebras do Oceano que o teu corpo flui na equação da recta

há nos teus seios de oiro uma velha parábola

que voa

e dorme

nas tuas mãos embrulhadas na curva de Agnesi,

 

És matemática que o homem acaricia

docemente

e resolve as equações de ti,

 

Redefino-te e sinto na tua boca o regresso do amor

sento-me em frente ao mar

e espero que cresça a noite

desenho na areia do prazer os lençóis onde adormeces

e absorvo-te na peugada estrelar das camélias em flor

e sei que habitam em ti todos os esconderijos da montanha...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:43

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