foto de: A&M ART and Photos
Os teus olhos no espelho que poisa no meu rosto,
do cansaço adormecido das palavras anónimas,
tu, meu amor, sussurras-me baixinho que serei eternamente tua,
acredito,
acredito que há no teu jardim rosas envergonhadas,
acredito,
acredito que os olhos que habitam no meu espelho,
um dia serão as minhas estrelas vadias,
Os teus olhos que dormem nos meus lençóis,
sós,
a aldeia escapa-se entre os dedos da tristeza...
e acredito...
Ofereço-te o meu corpo embrulhado em poemas de miséria,
eternamente tua, eternamente... ausente de ti,
regresso ao espelho e descubro os teus braços na sombra dos meus seios,
afago os teus cabelos enquanto a noite se veste de menina desajeitada,
de menina... de menina de uma outra cidade,
ofereço-te o meu corpo como se eu fosse a tua flor preferida,
a árvore sob a qual te deitavas quando se inventavam em ti os sargaços da manhã,
e partiam os barcos para o luar como pássaros em busca dos filhos em voos infinitos,
Os teus olhos que dormem e sonham nos meus lençóis,
tão distante, tu, homem sem local para aportares...
ofereci-te os meus abraços,
e tu,
e tu fingiste não ouvir,
disseste-me que o cais serve apenas para a partida,
e partiste,
sem regressar nunca,
Como as palavras,
depois de extinta a fogueira da paixão,
ouvia o silêncio dos teus livros...
e nada mais tenho a acrescentar a ti e de ti,
Os teus olhos que nunca me pertenceram,
os teus olhos que brincavam nas minhas coxas antes de eu levitar em direcção aos sonhos,
cerravas-os e partias como uma tempestade de areia...
a ti e de ti,
as conversas inacabadas,
as palavras não escritas, e não ditas,
os teus olhos, os teus malditos olhos que iluminavam um cubículo de papel...
e tinham tentáculos que conseguiam beijar o mar.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Maio de 2014