A tua voz me entristece,
quando sei que deixou de existir em mim o verbo amar,
a minha cidade, lá longe, tão longe... que nunca a conseguirei alcançar,
dormir nela,
acordar cedo, e abrir a janela,
a janela que tenho no meu peito,
há gaivotas, e há um corpo que envelhece,
a tua voz... a tua voz me enlouquece,
e no entanto, sou obrigado a viver acorrentado a este silêncio sem nome,
a esta vergonha de perder sem ser encontrado,
... não sendo habitado,
nesta sanzala de papel...
Este esqueleto de gesso que carrego e me deito,
sem perceber que há lábios de mel, que há lábios de desejo..., lábios consumidos pela fogueira de beijar,
esta voz me entristece,
como a água do rio que se evapora,
e levita,
e procuro-te, e procuro-te...
e me dizem... aqui ninguém mora,
aqui... aqui ninguém... chora,
Aqui é proibida a escrita,
Os tentáculos do amor,
os seios de uma flor antes de acordar,
as cordas de nylon que ancoram a tua dor...
ao cais de embarcar,
A tua voz me entristece,
o teu corpo vacila na tempestade de sonhar,
o calendário não cessa de correr...
e come-te em pedacinhos,
a tua voz enfraquece,
e transforma-se em versos desesperados,
versos odiados,
versos de escrever...
a tua voz me entristece,
antes de alguém desenhar no tecto das tuas pálpebras a madrugada,
ainda não zarparam os barcos da minha infância,
ainda... ainda não encontrado o verbo “AMAR”...
A tua voz não pode gritar!
A tua voz é um feitiço,
uma nuvem vagueando sobre o Tejo,
a tua voz é um marinheiro mórbido, um marinheiro embriagado na esplanada do beijo...
há cadeiras apaixonadas, há sorrisos travestidos de amanhecer,
a tua voz não pode cessar, a tua voz... não pode morrer,
a tua voz... não é o meu verbo “AMAR”...
que... que deixou de ser,
que... que deixou de sofrer...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 29 de Junho de 2014