Eras o meu poema,
vestias calças negras,
sorrias enquanto eu te olhava,
silenciavas-te enquanto eu sonhava,
Cerravas as pálpebras, e voavas,
Trazias na algibeira das calças negras apenas algumas vogais e umas tristes sílabas,
conversávamos e não conversávamos...
e éramos absorvidos pelo Luar,
Regressava o vazio,
a dor,
e do sofrimento havia sempre luz com braços de Várzea,
acenavas-me, e eu nada fazia, e deixa-me adormecer,
gritavas pela noite, e tínhamos a noite,
nas tuas calças negras,
a penumbra,
e sombrias palavras,
como o coração de um condenado à poesia,
queria ser astronauta, e fiquei-me por um simples aprendiz de feitiçaria,
que hoje recorda os barcos do Tejo e uma Lisboa adormecida,
e um magala procurando engate...
O comboio soluçava quando ouvíamos (Belém!!!!!!!!!!!!!!)
acordávamos,
e sonolentos... aportávamos no primeiro bar do amanhecer,
(Eras o meu poema,
vestias calças negras,
sorrias enquanto eu te olhava,
silenciavas-te enquanto eu sonhava),
Eras o meu poema,
a sinfonia abstracta que invadia a nossa janela de cristal...
Líamos AL Berto, Cesariny e abraçávamos-nos como duas gaivotas loucas,
encalhadas num velho Cacilheiro,
eras o meu poema,
eras a minha viagem,
balançava o cortinado de papel,
víamos o mar a dançar no tecto da alvorada,
respirávamos, não respirávamos...
(O comboio soluçava quando ouvíamos (Belém!!!!!!!!!!!!!!)
acordávamos,
e sonolentos... aportávamos no primeiro bar do amanhecer),
e havia sempre um velho esqueleto à minha espera,
descia a velha escadaria, e,
- Tem um cigarrinho? E fumávamos até deixar de ser manhã...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 3 de Junho de 2014