Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Jun 14

Hoje, quero fugir,

esconder-me na sanzala da minha infância,

com os meus frágeis bracinhos, chapinhar nos charcos de areia,

hoje, hoje a noite parece um cortinado de incenso, ténue silêncio nos teus dedos,

faltam-me as palavras, faltam-me corpos para escrever as palavras,

de neblina, de pólen... corpos, de cera, de nada, apenas corpos sem significado,

hoje, quero fugir,

hoje, hoje pareço uma locomotiva galgando os campos de milho de Carvalhais,

apitos,

e gritos,

hoje,

hoje, os teus olhos incendiaram os meus lábios,

 

(palpita-me que hoje vais descobrir o texto invisível que esconde o meu peito)

 

Hoje, quero-te,

fugir,

alegrar-me com o teu sorriso de bambu,

afagar o mabeco desgostoso, cansado da vida, cansado... cansado destas palavras...

 

(Cansado da tua ausência, e não estás ausente, e não... e não hoje, por favor, hoje não, hoje não sonhos nos teus cabelos)

 

Hoje, quero fugir,

desenhar-te na minha boca,

hoje, esconder-me em ti,

como uma criança amedrontada,

triste,

com medo,

medo que do mar venha a sanzala da minha infância,

e me traga,

paciência...

porque hoje, hoje quero fugir,

e hoje quero-te em mim,

construindo círculos de preia-mar,

 

Hoje, quero-te,

fugir,

alegrar-me com o teu sorriso de bambu,

afagar o mabeco desgostoso, cansado da vida, cansado... cansado destas palavras...

 

(searas, margaridas, hoje todos me pedem as palavras que nunca escrevi)

 

E hoje, e hoje escrevo porque te vi,

e sem ti,

senti o luar poisar nos meus ombros,

senti o xisto dos muros caindo dos socalcos imaginários,

como os barcos de papel,

como os marinheiros de sisal,

enfeitados com plumas encarnadas e sorrisos de vodka,

e hoje, e hoje quero fugir,

aterrar num bar sem conhecer ninguém,

sem palavras,

sem... sem ti,

sentir o machimbombo da paixão em pequenos soluços,

 

(e nada como uma bebida com sabor a amar)

 

Um shot de AMOR!

Porque hoje quero fugir,

um shot de saudade,

porque hoje sem ti,

senti a tua fotografia na montra de uma livraria,

raios...

outra vez a poesia,

um shot, por favor,

um shot de alegria,

um shot para me recordar,

como eram lindos os teus seios de madrugada,

e hoje, hoje quero fugir,

 

(sem me preocupar com o amanhecer, sem me preocupar com nada).

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 7 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:09

Esta tua viagem,

sentado numa velha cadeira de vime,

esta tua viagem... com regresso, sem regresso, nunca se sabe,

finges não ter medo, e percebo que ele corre nas tuas veias de alcatrão,

esta tua viagem,

navegando por ruas sem nome, por ruas sem... sem cansaço,

pedindo a esmola ao desassossego destino,

que habita numa casa amarela,

 

Esta tua viagem, nunca terá fim?

 

Gosto de ti!

E queria acompanhar-te como se fosse uma velha mala,

sem etiqueta,

 

Esta tua viagem,

sentado...

numa velha cadeira de vime,

numa praia desnuda, na praia do crime,

 

E o... e o medo?

 

De não regressares, de não votares a ler no luar as minhas palavras,

e esta tua viagem, meu velho... não terá fim,

começaste, apeaste-te numa sanzala de brincar,

olhaste os telhados de zinco, puxaste de um cigarro... e pluf,

e pluf,

novamente o eterno silêncio,

e novamente o eterno derradeiro medo,

desta invisível viagem...

 

Esta tua viagem, nunca terá fim?

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 7 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:20

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