Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

25
Jun 14

Desejo o coração de arroz doce que habita em ti,

desejo-te sabendo que é impossível desejar-te,

amo-te sabendo que...

é impossível amar-te,

acaricio-te sem te acariciar,

poema vagabundo,

texto de ficção não revisto,

palavras,

palavras de vidro espetadas nas tuas pálpebras de azoto,

desejo o coração, aquele que está encerrado na caixinha de vinil,

transparente como as lágrimas do luar,

perdidamente triste esperando o sol junto ao leito do rio,

 

Desejo não desejando,

 

Desejo o teu coração como desejo os versos de uma canção,

melódica,

poética...

apaixonada pelo agreste amanhecer dos dias sem madrugada,

 

Desejo não desejando,

desejar que me desejes, desejar que amanhã um relógio de pulso se canse,

e grite...

morra o tédio,

 

Desejo não desejando,

 

O coração de arroz doce que habita em ti,

os pedacinhos de saudade que voam sobre o Tejo adormecido,

desejo todas as pedras da calçada,

aquela..., aquela onde andei perdido,

desesperado,

quando cambaleava ao som de uma prostituta sem nome,

deitava-se e..., desejava-te não o sabendo,

havia lâmpadas no teu olhar,

havia livros nos teus braços,

nos seios teus de encantar...

Desejo não desejando,

que um dia apareças... apareças sem me avisar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 25 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:25

24
Jun 14

Este caixote que me enforca,

estas lâminas invisíveis consumidas pelo fogo,

a entranharem-se neste corpo amorfo,

e sinto os espelhos que habitam no meu cabelo a comerem as vozes da noite,

este caixote é uma prisão com grades de granito,

e dentro de mim, solta-se o grito,

uma revolta a alicerçar-se no luar,

antes da insónia abrir a janela dos sonhos,

 

Este caixote disfarçado de beijo,

estes tentáculos enrolados no meu pescoço,

que... que não me deixam respirar,

comer...

ou fumar,

 

Este caixote construído de sombras,

esta garganta iluminada pelos sons das melódicas cigarras,

este estúpido caixote, este parvalhão sorriso a escorrer calçada abaixo...

 

E... e acaba por morrer no mar,

este caixote de amar,

que me enforca, que me seduz... e ao mesmo tempo... e ao mesmo tempo me enlouquece,

como uma criança sem pátria,

como uma árvore sem terra,

sol...

este caixote que me enforca,

e escreve no meu corpo...

 

ADEUS, ADEUS... ADEUS!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 24 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:22

Porque me inquietas, sorriso lapidado dos montes cinzentos...!

sinto o abstracto silêncio navegar na tua pérola mão,

despeço-me da fogueira em solidão..., com aplausos, com... com infinitos beijos,

absorvo-te com a esponja do meu coração,

mas... mas... não sei que dia é hoje,

mas... mas não sei em que ano nasceste,

… e morreste,

montes cinzentos,

 

Porque me inquietas...

 

Noites ínfimas com sabor a desejo,

páginas muitas, algumas, algumas... sem palavras,

inquietas-me,

e foges como as amendoeiras em flor,

 

Porque teimas em desenhar no meu corpo borboletas,

e pássaros de papel...!

inquietas-me, tanto, tanto... tanto que tu me inquietas,

depois de descer o cortinado nocturno da dor,

depois de acordarem todos os marinheiros com odor a sabão...

inquietas-me,

e... e foges,

foges para os montes cinzentos.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 24 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:22

23
Jun 14

Tens um X no espelho dos teus lábios,

há um Y no centro do teu peito, deslocando-se em pequeníssimos milímetros,

ora para a direita, ora para a esquerda,

depois, mais abaixo, no teu umbigo... o desgraçado Z, desnorteado, sem saber o que fazer,

como eu, um corpo deambulando entre a raiz quadrada da solidão,

e uma mísera folha quadriculada, feia, e abandonada,

gravitando em volta dos teus seios,

procuro-me nos três ponto algures no espaço do teu desejo,

peço-te um beijo,

e tu, tu respondes-me com uma equação sem solução,

e obrigas-me a rotações ímpares, sem local para aportar,

como os barcos recheados de quadriláteros,

 

O meu corpo ancora no Z que adormece no teu umbigo,

transforma-se em três eixos, sinto-me tridimensional, raivoso, animal,

esqueço as palavras, esqueço as equações...

 

(Impossível de resolver)

 

Lá fora chove,

e hoje o vento entristece as três incógnitas do teu esqueleto com odor a noite sem nome,

há um perfume em ti que me diz... (hoje não o conseguirás),

e não,

desisto desta equação,

desgraçado, eu, eu que não percebo o significado da matriz amar,

talvez transposta,

talvez... talvez mal-disposta,

 

(Impossível de resolver)

 

Escrevo números no teu olhar,

silencio-me quando de ti uma parábola acabada de nascer voa como uma gaivota sobre o mar,

os resultados começam a aparecer nas tuas mãos...

o X é igual a paixão...

o Y é igual a cansaço, porque desenhar-te... cansa, Ai como cansa!

e o Z é igual a amor sem saída, rua encerrada, edifício sem transeuntes...

 

(Impossível de resolver)?

 

Não,

 

A equação do teu corpo... tem solução...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 23 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:07

22
Jun 14

deixas-me nervoso

odeio-te

canso-me das tuas palavras

e do teu sorriso

 

(horrível... que és)

 

não percebes que tenho asas

que sei voar...

que tenho sonhos

sonhos de amar...

cansas-me

e odeio-te...

e o teu sorriso

parece uma charrua a entranhar-se na terra agreste

miúdo burra

miúda... miúda sangria

cansas-me

e odeio-te... e odeio-te poesia

 

(horrível... que és)

 

insossa

ignóbil

estúpida

 

burraaaaaaaaaaaaaaaa....

deixas-me nervoso

odeio-te

canso-me das tuas palavras

e do teu sorriso

canso-me da tua rua

dos teus gritos enquanto voo sobre o planalto cinzento

fumo um cigarro

fumo...

recomeço

nada exijo

porque te odeio poesia

 

(horrível... que és).

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 22 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:44

Há uma cidade no teu corpo,

uma cidade proibida, uma cidade com lábios de despedida,

há uma rua pequenina, uma rua com sorriso de menina...

há no teu corpo janelas com vidraças de cansaço,

edifícios abstractos, e portas de entrada sem saída,

há uma cidade no teu corpo,

a cidade de aço,

uma cidade com um beijo morto,

 

Alicerçam-se as algas nos teus magoados cabelos suspensos no vento...

 

E a cidade do teu corpo..., é uma cidade de sofrimento,

entre linhas, entre palavras, com sabor a neblina,

há uma cidade preguiçosa no teu corpo,

a cidade eterna, a cidade sem alimento,

 

Nesta cidade, a cidade que habita no teu corpo, há um mendigo sem sina,

uma estrada longínqua, um rio insípido mergulhado na tua mão,

quero esta cidade, a minha cidade,

quero o teu encerrado coração,

 

Alicerçam-se as algas nos teus magoados cabelos suspensos no vento...

 

Há uma cidade no teu corpo que invento,

proibida, proibida como os cacilheiros adormecidos,

a cidade que fervilha,

a cidade que me deseja, e me transporta para os infinitos rochedos,

há uma cidade com bocas, com línguas... com... com medos,

uma cidade de torpedos,

vadia, proibida... uma cidade com esqueletos esquecidos...

(Alicerçam-se as algas nos teus magoados cabelos suspensos no vento...)

que dormem nos teus braços de papel amarrotado.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 22 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:20

21
Jun 14

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu perfume!

Que odor é este, que sabor tem na sua boca,

a lume, ciume,

diga-me Senhora,

de que sanzala é oriunda,

e louca,

que loucura habita no seu olhar,

será ternura?

Será... será o verbo amar...

Ai minha Senhora,

que cansaço desenhar nos seus lábios a mandíbula adormecida,

tão linda, tão... tão querida,

 

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

 

Que palavras são estas que vagueiam no seu corpo desnudo,

que seios são esses, de algodão, que se transformam em poesia,

quando da noite vem o homem mudo,

e se veste de alegria,

 

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

 

Ai Senhora, como são lindos os seus beijos,

como são belas as suas coxas de madrugada,

minha Senhora, diga-me... diga-me como é viver no seu peito...

porque eu, eu não tenho jeito...

porque eu, eu sou uma jangada,

perdido nos Oceanos desejos,

 

Diga-me Senhora, qual é a cor do seu silêncio!

 

Que tempestade é esta, que força me puxa para os seus braços...

diga-me, diga-me por favor...

diga-me como são os seus anseios, e se existe em si uma janela por abrir,

diga-me Senhora, diga-me quem é o usufrutuário do seu amor,

e de que cor,

e o odor,

dos seus abraços,

… em... em flor.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 21 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

Envelheces-me,

desenhas rugas nas minhas pálpebras envernizadas,

dizes que o meu corpo, dizes que o meu corpo é uma jangada apodrecida,

à deriva, como as gaivotas apaixonadas,

como as madrugadas,

também elas, tal como eu, envelhecidas,

tristes...

e... e cansadas.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 21 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:26

20
Jun 14

Quem sou?

Faltam-me as palavras para definir este cansaço sem pernas, este cansaço sem boca, este cansaço sem poemas,

 

As tuas mãos ardem, tracejando o meu corpo em lâminas de suor,

há um desejo escondido nos teus lábios de cerâmica adormecida,

há uma tempestade no teu cabelo, um rio vagabundo correndo nas tuas veias,

as tuas mãos alicerçam-se ao papel solitário, aquele... aquele que espera pela minha caligrafia,

um papel amarrotado, com odor a cidade, com... com alergia,

 

Que vida é esta, quando em mim facas de granito brincam como andorinhas,

quando em mim papagaios com olhos verdes se entrelaçam nos meus pulsos sangrentos,

e há um círculo no teu peito, um círculo cinzento, um círculo de espuma...

onde vive o prazer, de onde se alimenta a minha dor,

a dor... a dor de escrever,

 

Quem sou?

Faltam-me as palavras para definir este cansaço sem pernas, este cansaço sem boca, este cansaço sem poemas,

 

Serei um poema que vagueia nos teus seios?

Uma cama,

um espelho de uma velha cómoda encostada à lareira...

 

Faltam-me as palavras,

as minhas, as tuas palavras doiradas,

faltam-me os cinzeiros de estanho, onde deixo durante a noite os meus sonhos...

tu, tu embrulhada no luar,

faltam-me... faltam-me as palavras de amar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:35

19
Jun 14

Tenho medo de olhar o teu rosto lusco-fusco, e frágil, de areia, de mar, maré...

cacilheiro à procura de uma gaivota com sorriso de amanhecer,

poema inventado, poema por escrever,

sentindo nas pálpebras os alicerces da madrugada de papel,

tenho medo, confesso, de olhar-te nesse espelho convexo, onde pareces uma persiana suspensa no vento sem rumo, sem... sem estória,

uma correia, uma roda dentada... em movimento,

tenho medo, medo,

que adormeças, que não regresses... sem me dizeres... Adeus,

encontrar-nos-emos qualquer dia, por aí, numa esplanada,

ou... ou no Céu,

não acredito, mas finjo acreditar, e do medo, e do medo nascem em mim silêncios,

e... e palavras de gritar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 19 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:04

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