Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor
http://www.divulgaescritor.com/products/decima-sexta-noite-por-francisco-luis-fontinha/
Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor
http://www.divulgaescritor.com/products/decima-sexta-noite-por-francisco-luis-fontinha/
Eras o meu poema,
vestias calças negras,
sorrias enquanto eu te olhava,
silenciavas-te enquanto eu sonhava,
Cerravas as pálpebras, e voavas,
Trazias na algibeira das calças negras apenas algumas vogais e umas tristes sílabas,
conversávamos e não conversávamos...
e éramos absorvidos pelo Luar,
Regressava o vazio,
a dor,
e do sofrimento havia sempre luz com braços de Várzea,
acenavas-me, e eu nada fazia, e deixa-me adormecer,
gritavas pela noite, e tínhamos a noite,
nas tuas calças negras,
a penumbra,
e sombrias palavras,
como o coração de um condenado à poesia,
queria ser astronauta, e fiquei-me por um simples aprendiz de feitiçaria,
que hoje recorda os barcos do Tejo e uma Lisboa adormecida,
e um magala procurando engate...
O comboio soluçava quando ouvíamos (Belém!!!!!!!!!!!!!!)
acordávamos,
e sonolentos... aportávamos no primeiro bar do amanhecer,
(Eras o meu poema,
vestias calças negras,
sorrias enquanto eu te olhava,
silenciavas-te enquanto eu sonhava),
Eras o meu poema,
a sinfonia abstracta que invadia a nossa janela de cristal...
Líamos AL Berto, Cesariny e abraçávamos-nos como duas gaivotas loucas,
encalhadas num velho Cacilheiro,
eras o meu poema,
eras a minha viagem,
balançava o cortinado de papel,
víamos o mar a dançar no tecto da alvorada,
respirávamos, não respirávamos...
(O comboio soluçava quando ouvíamos (Belém!!!!!!!!!!!!!!)
acordávamos,
e sonolentos... aportávamos no primeiro bar do amanhecer),
e havia sempre um velho esqueleto à minha espera,
descia a velha escadaria, e,
- Tem um cigarrinho? E fumávamos até deixar de ser manhã...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 3 de Junho de 2014
Não sei onde habitas,
o que pensas, sonhas,
não sei o que choras, não sei a cor das tuas lágrimas,
se sofres,
ou... vives, ou... a equação das tuas mágoas,
não sei o teu nome, esqueci o meu próprio nome,
não sei se sou árvore, gaivota... ou... ou montanha branca,
talvez eu seja um barco desgovernado navegando no teu Oceano,
(O cansaço despede-me da poesia,
oiço-te como se fosses uma janela sem vidros,
descalça, um desempregado letrado, um esqueleto vadio...
uma janela encalhada no jardim da melodia,)
Não sei a cor dos teus olhos,
se são belos, ou... ou belos, e belos o são,
Não sei onde habitas,
se habitas em lugar algum,
não sei o que são palavras,
mas sei o que é o medo,
e o sorriso da dor,
Não sei onde habitas,
como são as tuas mãos quando desce a noite?
Passas, corres e levitas...
(Sinto o peso do Tejo nos meus frágeis ombros,
e de um auto-falante gritam o teu nome,
corres, caminhas... e desapareces no interior de um biombo,
e nada mais... até novamente nascer a manhã,)
Não sei onde habitas,
o que pensas, sonhas,
não sei o que choras, não sei a cor das tuas lágrimas,
se sofres,
Ou... ou simplesmente me ignoras,
não sei como é o beijo do teu cabelo,
não sei nada sobre as tuas pálpebras, não sei nada do que eu quero saber,
não sei onde habitas, não sei qual é a tua cidade,
o teu livro preferido?
Ah... também não sei a tua idade,
se és feliz, infeliz, ou... ou apenas uma flor perdida na calçada,
ou apenas um pedaço de poema escrito por um louco na madrugada, eu, que não sei onde habitas, eu, que não sei o sabor da tua boca magoada.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Junho de 2014
Não a encontro,
a frase suspensa nos teus lábios,
escrevo-a, e reescrevo-a, e nem um beijo de poesia consigo obter,
Há pigmentos solitários que a tua boca absorve,
olhas-me, e segues como uma bala disparada por um desejo escondido na montanha,
há uma cabana deserta, abandonada, esquecida como eu...
teimosa como eu,
há uma gaivota nos teus cabelos que me aprisionam ao cais dos mendigos,
não a encontro,
escrevo-a, e reescrevo-a...
sentindo nas tuas pálpebras a repetição de sons inaudíveis,
caminhas, e corres, e voas,
há pigmentos solitários, não a encontro,
a frase suspensa nos teus lábios,
e no entanto, procuro-te, de noite, de dia, enquanto sonho e sou filho da insónia,
Um muro de livros escondem-te, um muro de livros... um muro de livros comem-te,
e eu sentado no sofá da escuridão, pergunto-me se existes, pergunto-me se és poesia,
em formato de beijo,
Não a encontro,
centenas de frases acabadas de morrer,
palavras sem nome,
palavras sem corpo que a minha mão quer escrever,
sorris, sorris... e escondes-te sob o Plátano de braços cinzentos,
caminhas, corres, e... e voas,
sobes a escadaria de nylon em direcção à nuvem mais afastada de mim,
procuro-te,
procuro-te quando chove, procuro-te quando leio os livros do muro que te escondem,
e apenas uma réstia do teu olhar dispara para mim um cubo de silêncio,
sorriso, o teu, lindo quando caminhas e, e voas sobre as palmeiras da minha infância,
e espero, e espero o teu beijo de poesia...
(Não a encontro,
a frase suspensa nos teus lábios,
escrevo-a, e reescrevo-a, e nem um beijo de poesia consigo obter).
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Junho de 2014