Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Jul 14

O cansaço adensa-se nos teus lábios,

murmúrios de odores invisíveis alicerçam-se aos teus pulsos,

pareces uma árvore em papel, uma flor indefinida, ainda por descobrir...

 

O cansaço dilata-te as pálpebras de xisto,

ouves a voz do livro poisado na mesa-de-cabeceira, e dormes, e dormes...

 

És prisioneira da manhã acabada de nascer,

embrulhas-te no lençol da preguiça, e estendes os braços até tocares o Sol,

uma fina película de insónia brinca nos teus seios de mar,

uma fragata pronta a disparar... não o consegue,

fica ofuscada pelo teu olhar, desassossegada, ela, suicida-se no rio da saudade,

amas e não amas,

finges partilhar os segredos da madrugada,

e o cansaço, desfigura-te o cabelo de pergaminho, e evapora-se nas frestas do beijo,

 

Cerras os lábios cometidos pelo cansaço,

sentas-te em frente à esplanada de areia branca, e ela, a barcaça, grita o teu nome,

regressam os homens dos canhões de pele embalsamada, és linda, és amada...

 

A maldita mordaça,

que te proíbe as palavras do amor,

 

O cansaço adensa-se...

a amizade cai sobre um telhado de vidro, fica sem vida,

fica... fica enraizada na escuridão de um bar,

o cansaço não espera, e o coração não resiste às sílabas que sobejaram da lareira da poesia,

há uma lágrima,

morta,

há a prisão disfarçada de jardim soberbo...

com flores alienadas que inventam amor onde apenas habita a amizade...

 

O livro,

o livro sem medo, levita nos teus sargaços de alecrim,

o livro das vozes, deixa de ser o livro das vozes...

e do livro, e do livro sem medo,

sai um menino a brincar com um triciclo,

colorido,

que... que faz o cansaço dilatar-te as pálpebras de xisto...

… e uma multidão de sombras, saídas do livro sem medo,

 

Desejam uma carícia tua... um gesto de giesta florida, desejam-te!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 15 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:00

Imagino-me dentro de ti,

 

O sonho, o sonho invade a clarabóia das serpentes,

há uma montanha, uma montanha desenhada na rocha submersa da solidão,

imagino-me dentro de ti,

sentir o odor do papel amarrotado, triste...

cansado,

o sonho tem um nome,

vive dentro de um corpo anónimo, diluído nas asas de uma gaivota,

há um esqueleto em revolta,

faminto,

tão... tão desgraçado...

escreve, e das palavras se alimenta,

e vive, e sonha...

 

Imaginando-se dentro de ti!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 15 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:45

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