Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Jul 14

A caixinha envidraçada, suspensa na madrugada, sentia-se o silêncio no espelho da mágoa, havia entre nós o sentimento de que nunca mais regressávamos, partíamos..., e

Sentia-me escuro, desabafava com o meu pai, e ele, não tenhas medo, não, meu filho,

Dentro da caixinha trazíamos pedacinhos de saudade, poucos tarecos e amanheceres de nada, partíamos para o desconhecido, partíamos sem sabermos o que nos esperava, lá longe, ma Metrópole,

Pai? Sim filho, o que é... essa coisa de..., Metrópole, meu filho? Sim, sim pai, é a nossa terra, responde-me ele secamente, não percebi, pois sempre ouvi (com todas as letras) dizer que a minha terra era Angola, não...

Não essa Metrópole, não essa coisa de..., deixa lá pai, não faz mal, depois explicas-me, e cresci, e vivi, ou melhor, fui vivendo sem perceber o significado de Metrópole, esta angústia, este desassossego, sentia-me enforcado numa sombra de uma das mangueiras do meu quintal,

Sentia-me escuro, desabafava com o meu pai, e ele, não tenhas medo, não, meu filho, e eu perguntava-me por era tão grande aquele paquete de papel..., pai? Sim, filho, não tenhas medo, meu filho, não tenhas...

 

(…)

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 3 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:16

02
Jul 14

Este Oceano que me alimenta,

este cansaço que me habita, e se afugenta,

este corpo que desenha um abraço na janela que levita,

estes lábios secos, trémulos... e desorientados,

estes poemas molhados,

que a tua mão aquece,

e merece,

a minha mão sentida, a minha mão sofrida,

este Oceano que me engole,

e come como se eu fosse uma bandeira,

ai, ai este corpo que não dorme,

este corpo esquecido nos cabelos de uma ribeira...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 2 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:33

01
Jul 14

Observo num espelho curvo a implosão do meu desejo,

há uma estrada que circula nas minhas veias,

sentamos-nos,

e tu, tu ignoras a palavra mágica retirada de uma nuvem sombreada pelo amor,

pergunto-me o significado de...

amor?

não, não... pergunto-me o significado de pecado,

quando a implosão do meu desejo se desvanece,

adormece sobre ti...

e o espelho acompanha-nos até à morte,

há uma estrada que és tu quando me abraças,

ou... abraçavas,

 

Há uma estrada salpicada de mar,

e palavras indefesas que procuram a noite,

uma noite tranquila, uma noite transatlântica...

parva,

romântica...

e pergunto-me o significado de...

amor?

não, não... pergunto-me o significado de voar,

quando os teus lábios se masturbam na claridade do luar,

há flores,

há... essa maldita estrada,

tão longínqua... e... e cansada.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 1 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

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