Nunca vi o teu nome escrito na fogueira da tarde,
imaginava-te uma serpente de luar enrolada no pescoço da noite,
tinha medo de ouvir a tua voz, tinha medo... da minha própria voz,
sabia que havia um espelho onde habitavas, um espelho mágico onde aparecias depois de cessarem todas as luzes em mim,
sentava-me sobre a ponte metálica da sonolência, inventava silêncios para não ouvir os teus gemidos,
desenhava-os como se eles fossem o acordar da manhã no pulso de um mendigo de aço,
e acreditava nas palavras não ditas, aquelas que tu escondias junto ao teu peito de anémona-do-mar,
sem vontade de amar,
sem vontade de viver...
nunca vi o teu nome nas ardósias madrugadas de suor,
quando uma cama recheada de sombras cobria a tua pele...
uma janela que se suicidava, e tombava no pavimento térreo da saudade,
Uma criança que chorava, e tu, e tu pensavas que eram os mabecos enfurecidos pelo cacimbo,
e afinal, e afinal eram apenas as mãos do desejo a penetrarem em ti,
desgovernada mulher dos sete lençóis de prata...
Tínhamos uma palhota com pernas de solidão,
e nunca vi o teu nome... escrito... na fogueira da tarde,
hoje, hoje sei que a tua voz é de cristal, e com a tempestade... quebrar,
grãos de amêndoa voando na algibeira do Tejo,
os cacilheiros em apitos joalheiros, e cansados de tantas viagens sem regresso...
um dia dia vou regressar?
Nunca soube a resposta aos apelos do Oceano,
num recreio de escola, uma criança vestia-se de estátua, no seu pedestal apenas uma flor amarela, e não palavras, e não... e não sorrisos,
e... e não sonhos,
nunca via o teu nome,
em mim...
como as escoras da insónia nas frestas do gesso envelhecido.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 6 de Agosto de 2014