Pertences ao desejo amanhecer,
és a amante dos meus braços cadentes que a noite absorve,
pertences à cidade florescente dos rochedos sem nome,
és o beijo disfarçado de manhã adormecida,
e há na tua pele uma pluma doirada, e amar-te parece um poema inacabado,
és mulher, és a poesia das árvores dançando com o vento,
és o luar, és o alimento...
dos veleiros passeando no mar,
Pertences ao rio cansado de amar,
és a filha das sanzalas de papel com odor a neblina,
és a menina dos olhos de sisal...
és o beijo,
és o texto embriagado com as palavras de cristal,
e há nos teus lábios um labirinto de doçura, um poço de silêncio envenenado...
que me engole, que me embrulha... como se eu fosse o teu corpo,
o corpo que desenha prazer no teu corpo de algodão,
Pertencerás-me um dia?
Menina das insónias ondas do Oceano desejar,
tens nos teus olhos a textura dos cortinados de néon que inventam o amor,
menina,
menina dos abstractos nocturnos que povoam os teus seios...
dos pássaros, dos pássaros que poisam nas tuas coxas cinzentas,
pareces a montanha nua..., pareces a Aurora Boreal dos cinzeiros de prata,
… pertencerás-me um dia? Menina..., menina das insónias ondas do Oceano desejar!
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 9 de Agosto de 2014