Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

31
Ago 14

Esta casa que não cessa de chorar,

estas janelas com bocas de inferno e línguas de fogo...

para me atormentarem,

me enganam,

me sufocam,

alimentam-me as mãos depois do jantar,

e me tocam,

saciando a sede do rochedo sobre o telhado da saudade,

salpicando de sangue o meu corpo de pano...

esta casa que vi enlouquecer,

onde cresci,

onde morri... morri de sofrer,

 

Esta casa de engano,

estes livros mortos, cansados de viver,

esta casa com paredes de vidro e tecto de colmo...

o circo,

o circo regressa à minha terra,

eu, o palhaço das palavras,

o trapezista dos silêncios...

o que tem esta casa?

que me acorrenta ao soalho emagrecido pelo veneno do sofrimento,

esta casa... esta casa não existe, e eu, o palhaço das palavras...

olho esta casa de frestas e donzelas e crucifixos falsificados,

que o circo transporta nos finados...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 31 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:33

Ele suicidou-se nas palavras,

transportava no peito uma ardósia de silêncio,

caminhava sobre o inventado mar das terras assustadas,

e acreditava nas palavras...

tinha um saco de pano onde tudo guardava,

cartas,

rosas embalsamadas...

e livros amachucados,

trazia na pistola uma bala de prata,

um coração de vidro...

e um beijo de lata,

apontou-a à caneta de tinta permanente,

e...

e suicidou-se nas palavras,

lá ficou ele entranhado nas terras assustadas,

como um cão raivoso,

como um pássaro sem asas,

o amor do poeta suicidado vestia-se de papel,

trazia nos lábios um poema amaldiçoado,

com palavras assassinas...

descia a montanha,

sentava-se junto à ribeira,

e na algibeira quase sempre uma caneta apontada,

a pistola com corpo de mulher,

nua, percebia-se na areia as curvas lunares,

e nuvens de insónia...

ele suicidou-se nas palavras,

quando a tarde ainda brincava nas terras assassinas.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 31 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:16

Participações de Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:13

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