Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

13
Set 14

Não tenho paciência para as coisas simples,

transformo-me em cometa,

sou um agregado de poeiras vagueando no teu olhar,

gostava de ser camaroeiro...

e enganar os navegantes intrusos que invadem o meu silêncio,

fazia desaparecer todos os barcos do oceano,

e sobre a mesa-de-cabeceira... eles perfilados, esperando o cair da noite sobre os invólucros das sanzalas inabitadas,

uma criança sorriu-me e eu fingi que era apenas uma sombra,

ninguém... não queria ver ninguém,

percebia-se nos meus lábios as gaivotas acabadas de abandonar a linha de montagem,

rochedos rebeldes com mão de azoto,

não tenho paciência...,

o amor infinito que arde num cinzeiro recheado de restos de cigarros inanimados,

sentia nos dedos o peso do fumo obsceno das meninas que passeavam junto ao rio,

paciência,

não,

obrigado pelas estrelas que me enviaste,

de nada me serviram,

mas colei-as nas cartas de amor sem remetente,

tão tristes,

e tão belas quando via o carteiro e lhe perguntava...

tem correio para mim,

que não,

nada, e as palavras quando poisavam nas minhas mãos...

desmaiavam,

tombavam como cancelas de um qualquer apeadeiro esquecido numa fotografia,

que não,

que eu nada sentia.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 13 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:38

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