Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

23
Set 14

Nunca soube quem eras

o que fazias

nunca soube a quem pertencias...

 

nunca soube se em ti existiam

tristezas

… ou... ou alegrias

 

nunca soube nada do teu sorriso sonolento

se sonhavas

se eras apenas o alimento

 

da paixão

 

nunca quis saber o teu nome

se é que tens nome

um corpo

se é que tens corpo

nunca

nunca percebi o colorido dos teus lábios

nunca quis escrever-te

cartas

ou... ou pequenas palavras

de silêncio

das palavras de nada

nas palavras envergonhadas

 

da paixão.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 23 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:49

22
Set 14

Este pano azul cansado

deitado sobre o teu corpo

acariciando a tua pele de luar

que a madrugada fez esconder

este pano... que o piano amar acorrenta

este sofrer...

a saudade do mar

entranhada nos meus lábios,

 

Este pano azul...

que o silêncio consegue desenhar no teu sorriso

o morrer

sabendo que todas as flores deixaram de brincar

a tua mão vazia

como o rio que desce a montanha

a tua mão entrelaçada nas sombras da paixão

que o pano azul escreveu numa noite de loucura...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:21

21
Set 14

Este malfadado trânsito que não me deixa regressar à tua mão,

a chuva miudinha que invento,

e poisa nas tuas pálpebras de gaivota ensonada,

o meu corpo não anda, a noite entra em mim... assim... sem nada,

só,

este malfadado trânsito,

que alimenta a tua saudade,

e a estrada encurvada,

sem candeeiros...

sem... sem madrugada,

que a montanha engole,

que... que a montanha esmaga,

 

Este triste silêncio com mandíbulas de cristal,

a pequenina folha de papel sobre a secretária,

espera-me,

espera-me sem perceber que eu não tenho paciência para ela,

enerva-me,

ela e as palavras,

estas palavras,

… que o sono constrói só para me atormentar,

 

Este malfadado trânsito... infernal,

que da longínqua insónia multiplica o cansaço pela solidão,

subtrai os teus pincelados seios ao amanhecer...

e fico... e fico com as estrelas de papel que tens suspensas nos teus cabelos,

sinto dentro deste corpo vagabundo,

o rio com odor a embriagados sábados...

não sei o significado da paixão,

nem do imundo colorido sorriso do amor,

não sei... não quero saber,

porque caem as árvores mais belas do meu jardim,

porque choram as rosas mais belas do meu jardim...

este malfadado trânsito... é um sofrimento sem fim.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 21 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

20
Set 14

Gostava de caminhar sob os teus desejos

e gritar ao vento laminado

as palavras que não consigo escrever,

desenhar na minha mão os teus beijos

que a madrugada alicerça nos cortinados da insónia...

gostava de caminhar sob os teus desejos

e sentar-me junto ao Tejo

fingindo que sou uma caravela sem marinheiro

fingindo... fingindo que sou um desabrigado esqueleto de xisto.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 20 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

19
Set 14

este silêncio que se entranha no meu corpo

como ponhais de areia

um oceano de saudade caminha calçada abaixo

abraçando-se ao rio

beijam-se como dois loucos

encastrados no pulsar da madrugada

este silêncio mata

e consome o desejo de partir

o barco ancorado aos lábios do marinheiro poeta

as cordas castanhas quase em liberdade

como os homens tristes dos bares da velha cidade...

em silêncio...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 19 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:57

18
Set 14

O palhaço da roulote emagrecida,

na porta de entrada está crucificado o número vinte e três,

sem vizinhos para conversar,

o palhaço morre em pedacinhos...

e era feliz se morresse de vez,

silenciavam-se as vozes dos espectadores anónimos,

um punhado de palmas ficavam alegres,

e contentes,

e o circo transformava-se num círculo com anéis de prata falsificada,

há nos seus olhos a desilusão de um tardio amanhecer...

depois do espectáculo, entra na roulote, e acende a lareira da solidão,

e espera, e desespera... o regresso do novo dia,

o palhaço com botas de cansaço,

sonha subir até às estrelas que estão suspensas no tecto da dor,

um poeta também vestido de palhaço... inventa jardins de arame,

e locomotivas em cartão,

sofre,

sofre ele porque dentro da roulote nada mais existe do que a lareira da solidão,

chora,

e ele percebe que a vida é um espectáculo sem abrigo,

um homem desiludido com o circo das tempestades.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:00

17
Set 14
publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:59

(Ao meu Pai)

 

 

Corre nas minhas veias um enxame de saudade,

percebo pelo espelho do guarda-roupa que existe sobre os meus ombros uma lâmina de silêncio,

procuro nas lágrimas do amanhecer a tempestade da insónia,

e sei que se abrir a janela do cansaço...

um pássaro azul poisará no meu olhar,

sinto-te triste,

amargurado...

desiludido como um soldado,

quando a espingarda lhe é apontada,

e parece que não queres fugir,

apenas preferes ficar sentado...

sentado a ver a Baía de Luanda quando passeavas com uma criança,

e de mão dada...

lhe segredavas,

um dia, um dia meu filho... vamos regressar,

eu, eu olhava o mar, e... e acreditava,

imaginava-me um marinheiro de cachimbo ao canto da boca,

sentia no meu corpo os apitos da paixão,

pela terra,

pelas árvores... pela cidade,

e inventava outros meninos como eu...

que passeavam de mão dada com a saudade,

e desde então... nunca, nunca mais vi a Baía de Luanda!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 17 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

16
Set 14
publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:18

Os meus olhos são a prisão invisível do silêncio cinzento,

há no meu triste rosto uma pequenina lágrima de arsénio,

um composto,

submergido no desgosto,

que a tempestade transporta para o oceano de pedra,

os meus olhos são a alegria do pedinte decapitado...

homem iletrado,

que sofre com os solstícios envenenados,

uma parede se escreve,

e uma parede se desenha,

o papel angustiado das minhas palavras torna-se numa pesadíssima forca de luz,

e dos meus olhos... o silêncio cinzento,

e do meu corpo a sibilada melancolia,

o relógio um fantasma com braços de medo,

e eu, coitado, ao lado do pedinte decapitado...

manhã cedo,

o sorriso da morte que bate à porta de entrada do meu peito,

sem sorte, o pedinte decapitado sorri, o pedinte decapitado... dança na eira granítica da solidão,

os meus olhos sempre foram uma prisão,

com grades em pálpebras de azedume amanhecer,

nunca quis pertencer à madrugada,

nunca... nunca quis acordar e abrir a janela da saudade...

estes riscos e rabiscos sem nexo,

estas palavras decepcionadas, más, cansadas,

que a noite mistura na paleta do inferno,

os meus olhos são a prisão invisível da cidade adormecida,

uma cidade sem nome,

e... e esquecida,

uma borboleta que canta e nas horas vagas é pianista,

o pintor apaixona-se pela pianista,

e o pedinte decapitado...

sentado no telhado a construir barcos,

e não percebe que não existe mar...

e que o mar apenas vive nas telas do pintor...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 16 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:50

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