Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Set 14

Tão longe, esses olhos escondidos no silêncio da minha mão,

tão perto, a tua fotografia a preto e branco suspensa no estendal da solidão,

sentado, escuto, e olho, e sonho...

sentado felicitam-se pela minha ausência,

torno-me invisível, I N V I S Í V E L...

e... e tão pequenino... que nem uma qualquer página de jornal me consegue encontrar,

dizem, quando passam por mim, que enlouqueci,

escrevem nas paredes do meu corpo...

“AUSENTE”,

e um ausentado não sofre,

não chora, não sente,

e... e não quer ser amado,

repito,

sou um simples AUSENTADO,

tenho asas,

tenho ventos nas minhas pálpebras de diamante,

e... e repito,

não,

não quero ser encontrado,

tão longe, esses olhos...

desejam-me como um esqueleto formatado,

e há quem pense que eu sou uma antiga disquete...

não, não o sou,

impossível... impossível formatarem-me,

tão perto, a tua fotografia a preto e branco...

e já me apelidaram de banco de jardim,

de árvore,

gaivota,

apelidem-me de tudo o que quiserem,,,

mas prefiro ser um AUSENTADO,

do que estar presente e pertencer ao amanhecer dos formatados,

porque não um falhado?

um falhado de fato e gravata,

de jornal com três dias de atraso debaixo do sovaco,

agacho-me,

e com o lenço de linho dou graxa aos sapatos...

Ai... anda por aí tanto engraxador,

que me farto,

que me cansa,

que... que não encontro explicação para pertencer ao amanhecer dos formatados,

antes um AUSENTADO...

mesmo sendo um AUSENTADO falhado...

do que um engraxador diplomado,

um... um engraxador fornicado...!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 15 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

14
Set 14

Quem és tu marinheiro

que habitas o meu corpo salgado...

que me aprisionas aos rochedos do medo

e te escondes nos esconderijos do silêncio

invento nomes

quando ela passa por mim

como o luar agachado na madrugada

de mão dada

com uma loira menina

como os muros de xisto

de socalco em socalco

oiço a enxada do cansaço lapidar os corações de pedra

e tu

marinheiro

dentro de mim como uma jangada

quem és tu marinheiro

que apodreces os meus ossos de cristal

e ela

tão bela

sem nome

sem... sem pedestal

caminha

palminha

os montes de papel com odor a amanhecer

sentada numa esplanada de brincar

oiço-as

as enxadas amaldiçoadas

no altar do Oceano

mulher que me acorrentas às palavras

e sofro

e sinto no meu olhar o teu nome que não o sei

quem

quem és tu marinheiro

que habitas o meu corpo salgado

meu amor

vou apelidar-te de Caravela

sem vela

sem rumo

correndo o meu corpo salgado

e tu

marinheiro

serás eternamente o meu comandante

que a solidão guiará até ao cais da ansiedade...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 14 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:21

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:45

13
Set 14

Não tenho paciência para as coisas simples,

transformo-me em cometa,

sou um agregado de poeiras vagueando no teu olhar,

gostava de ser camaroeiro...

e enganar os navegantes intrusos que invadem o meu silêncio,

fazia desaparecer todos os barcos do oceano,

e sobre a mesa-de-cabeceira... eles perfilados, esperando o cair da noite sobre os invólucros das sanzalas inabitadas,

uma criança sorriu-me e eu fingi que era apenas uma sombra,

ninguém... não queria ver ninguém,

percebia-se nos meus lábios as gaivotas acabadas de abandonar a linha de montagem,

rochedos rebeldes com mão de azoto,

não tenho paciência...,

o amor infinito que arde num cinzeiro recheado de restos de cigarros inanimados,

sentia nos dedos o peso do fumo obsceno das meninas que passeavam junto ao rio,

paciência,

não,

obrigado pelas estrelas que me enviaste,

de nada me serviram,

mas colei-as nas cartas de amor sem remetente,

tão tristes,

e tão belas quando via o carteiro e lhe perguntava...

tem correio para mim,

que não,

nada, e as palavras quando poisavam nas minhas mãos...

desmaiavam,

tombavam como cancelas de um qualquer apeadeiro esquecido numa fotografia,

que não,

que eu nada sentia.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 13 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:38

12
Set 14

Encurvado,

o maligno cansaço entre as montanhas da dor,

lá longe o rio embalsamado procurando o luar,

desce a nuvem do sofrimento sobre a madrugada,

há lápis de cor embrulhados em pergaminhos transparentes...

começa a noite,

e encurvado... o apeadeiro da solidão,

só,

enlatado numa caixa de sapatos,

o mórbido alimento dos pássaros sem asas,

há tristeza nos teus olhos,

só,

há lâminas de silêncio onde habitam lágrimas de néon,

a cidade perde-se na algibeira nocturna das amendoeiras em flor,

e só...

vejo o apeadeiro da solidão desfalecer junto à ponte.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 12 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:46

11
Set 14

Não digas o meu nome,

nunca...

rasga-o e lança-o ao vento,

não digas o meu nome na vã esperança,

porque o cansaço alimenta...

e a noite come os êmbolos do meu silêncio,

sou uma máquina em aço laminado,

o meu esqueleto é composto por rodas dentadas,

roldanas...

e milímetros de fio desengonçado,

não,

não digas o meu nome,

amanhã acordarei?

sem nome,

idade,

altura...

amanhã nunca,

o meu nome lapidado...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

10
Set 14

Tinha o odor dos teus lábios nos meus lábios,

uma tempestade de silêncio... levou-o...

o vento absorveu os teus cabelos,

que se passeavam no jardim dos plátanos,

senti a morte nos meus braços,

desfaleci... e aos poucos via-me dentro do espelho da saudade,

gritei...

e ninguém me ouvia,

até que desceu do luar um sorriso de nada,

agarrou-me,

fortemente conta o seu olhar...

e hoje... e hoje pertenço aos malmequeres sem nome...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:43

09
Set 14

Esta escuridão que não cessa de gritar,

esta montanha que não se cansa de chorar,

as tuas mãos, meu querido, suspensas no amanhecer,

este mar que te leva para o infinito,

quando do silêncio acordam as ninfas coloridas da dor...

este porto sem correntes,

esta cidade endiabrada que foge do teu olhar,

as árvores que tombam... e... e tu não sentes,

esta escuridão,

nas tuas pálpebras de cartão,

submersas em palavras com odor a tristeza,

esta vida, meu querido... esta vida que teima em destruir-te como se fosses pequeníssimas bolas de sabão...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 9 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:25

08
Set 14

Este poço impávido com janelas para a morte,

um telhado de vidro que lhe esconde as feridas em falsas palavras,

o poema morto, o poeta de braços cruzados...

sem conseguir cessar a tempestade,

este poço amargo, este poço invisível,

escondido nos algerozes da solidão,

de palha o esqueleto do homem arde...

e oiço levemente sobre o a mar as cinzas da indefinida melancólica saudade!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 8 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:34

07
Set 14

O homem das sete cabeças dentro do teu corpo,

prisioneiro nas tuas veias,

enrolado em fios de seda...

 

Um anónimo duplicado,

sem voz,

sem medo...

em pecado,

 

O homem que se veste de sofrimento,

e se olha no espelho da dor,

caem-lhe as folhas caducas dos cinzentos cabelos,

e espera pelo vento...

na ponta dos dedos,

sem voz,

sem medo...

em pecado,

 

E o anónimo duplicado... não sente a cor do mar que brinca nos seus braços!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 7 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:30

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