Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Set 14

Hoje acordei e nada tinha para te dizer,

dizer-te bom dia... quando hoje está um dia triste, ausente, como tu...

olhar-te sabendo que não queres que te olhe, sentes medo, sentes... cansaço,

hoje acordei,

e também não queria ouvir palavras,

apenas... apenas contemplar-te sem que o percebesses,

 

Hoje acordei e vi no meu espelho o teu rosto,

confundi-te com uma gaivota,

por alguns instantes... acreditava estar dentro de um sonho,

que ao longe serpenteava o mar no teu olhar,

mas não,

não existe sonho, não existe mar...

 

Porque acordar... é como se o espelho da verdade ficasse em pequeníssimos grãos de areia...

 

Hoje acordei...

 

Sem saber que acordar é fingir que não te vejo!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 6 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:51

05
Set 14

Vai nascer uma rua com o teu nome,

que permanentemente habitará dentro de mim,

como habitam outras ruas, outras cidades... cidades de papel,

palavras,

gritos,

lágrimas...

 

e saudades...!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 5 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:42

04
Set 14

Não há peixes no rio que corre nas minhas veias,

não existem pássaros nas árvores que habitam os meus cabelos,

não,

não há andorinhas nos meus lábios,

nem... nem gaivotas que poisem no meu peito...

há rochedos em mim,

clarabóias com sabor a desejo,

não há mãos que escrevam palavras...

nas páginas cansadas do amanhecer,

não... não há madrugadas pinceladas de beijos,

não há silêncio dentro do meu esconderijo,

estrelas suspensas no tecto da saudade,

não há montanhas de verdade,

nem uma cidade clandestina...

onde possa caminhar sem medo do mar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 4 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:20

03
Set 14

Esta viagem não terá fim,

a terra que procuro não existe mais,

parecem livros velhos... parecem jornais,

semeados na lareira do sofrimento,

esta viagem é uma guilhotina de insónia,

esperando a noite,

esta viagem é uma rua sem saída...

onde habitam telhados de incenso,

essa terra... essa terra envelheceu,

e esta viagem embrulha-se no vento,

grita às encostas graníticas sílabas com doença,

sílabas dentro de um saco de napa vestido de Céu...

esta viagem desassossegada,

quando se confunde com a madrugada,

essa terra magoada...

no olhar das serpentes em silêncio,

esta viagem desterrada,

sem porto para aportar,

e aquele mar... e aquela terra íngreme que ficou encaixotada,

esta viagem marginal correndo em direcção ao nada,

rochedos, auroras boreais, e outros medos,

e tantos mais...

essa terra,

esta viagem,

este corpo sem correntes,

este corpo sem misericórdia...

que não cessa de ranger,

e tantos mais... esta viagem que parece aos poucos morrer!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 3 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:27

02
Set 14

não o quero

porque existe um labirinto de vespas nas asas do silêncio

sabendo que sou um coitadinho

mendigo diplomado

não não o quero

não o quero junto a mim

prefiro a solidão

prefiro a noite com correntes de sisal

não quero

ser o que nunca fui

parecer o que não sou...

não o quero

 

não

 

não o quero

suspenso no meu portão

viciado...

 

lânguido imaginário das arcadas em flor

iluminado

talvez

não

não o quero

não o quero junto a mim

triste

enfezado

enforcado numa corda invisível

não

talvez

talvez não o queira

 

junto a mim

assim...

 

 

só a brincar com um arame de vidro

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 2 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52
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01
Set 14

Pediram-me silêncios...

e eu, nas nuvens amarguradas da tempestade da insónia,

desenhei... gritos,

transformei abraços em pedaços de madeira,

escrevi beijos em bandejas com flores grisalhas,

tinham cabelos cinzentos,

os homens das esplanadas inventadas,

depois... depois sentei-me no pôr-do-sol,

chamei a mim a tristeza do fim de tarde,

peguei num cigarro quase moribundo... e vi-o morrer nos meus dedos,

sentia-lhe os últimos desejos,

sabia que pouco tempo depois morreria como um desprezado,

como tantos homens morrem,

como tantas crianças nascem...

como tantos cinzeiros esquecidos num roseiral,

pediram-me silêncios...

e pintei nas pratas enroladas do invisível desassossego,

bolhas castanhas com odor a calafrios...

o corpo emagrecido rangia,

os alicerces destruíam-se enquanto o vento se escondia numa locomotiva abandonada,

sem percebermos que nunca existiu um ponto fixo de chegada,

havia lanternas com dentes de marfim,

tínhamos no sótão um guindaste de brincar,

abríamos a janela,

e puxávamos o mar,

só para nós...

até que uma fina película de cacimbo comeu-nos as bolhas castanhas...

o corpo começou a arder,

os braços ancoravam-se aos indolentes amanheceres...

vi uma luz que vivia dentro de uma caixa de vidro,

acenou-me... e no tecto começaram a nascer gaivotas,

ouvíamos os apitos dos barcos de papel,

e nenhum marinheiro se atreveu a resgatar-nos dos gritos das bolhas castanhas...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 1 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:36

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