Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

26
Out 14

Esta seara de trigo

que ele deixou nos braços do vento

do cansaço construiu o sofrimento

e hoje vive no planalto da inocência

como uma sombra sem infância

dos palhaços voadores

viveu

e cresceu

na laminada sonolência que os fantasmas trazem ao peito

era um desajeitado poeta sem palavras

mendigo nas horas vagas...

esta seara de trigo onde habitam as húmidas mulheres de gesso,

perdeu-se numa calçada

a última vez que foi encontrado...

brincava

sonhava

dentro de um crocodilo de prata...

poeta desassossegado

poeta despedido das avenidas incendiadas

corpos em chamas

sexos murchos...

embriagados poemas...

e fotografou o amor no Tejo longínquo

como uma gafanha apaixonada,

esta seara onde te escondes

e desenhas

o meu sorriso envergonhado

olho a fotografia do Tejo longínquo...

não te reconheço

não sei quem és...

e o odor do teu corpo foi ancorado aos cais da despedida

um adeus ácido alicerçou-se nos meus cabelos...

veio a noite

e toda a aldeia sob uma podridão de gotículas inanimadas...

porque esta seara

não pertence às cordas da paixão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 26 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:48

Com a participação de Francisco Luís Fontinha.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:10

25
Out 14

Vagueias entre os lábios das andorinhas de papel

és uma planície desgovernada

que espera ser semeada...

com palavras

e beijos de pólen

vagueias nos disfarces da madrugada

ténue luz

janela encerrada,

 

Vagueias... com arte

vagueias na geometria complexa do meu olhar

esperamos o regressar da vertigem

há em ti o silêncio e a viagem

de vaguear sem destino

vagueias na metamorfose dos ossos de cristal

entre os barcos cansados de caminhar...

… e os homens embebidos nos poemas de chorar,

 

Vagueias no sexo inventado dos amores risíveis

trazes no peito a claridade da insónia

misturamos os dedos nas mãos que vagueiam as montanhas de sémen...

vagueias por vaguear

e sonhas com círculos suspensos no Céu

… e os homens embebidos nos poemas de chorar

que o poeta deixou na clareira amortalhada

que o poeta cessou depois da tua partida,

 

Vagueias miúda no cigarro incandescente

corres, corres... corres sem perceber que há no amanhecer fotografias tuas

calendários moribundos...

e relógios com mecanismos envenenados

vagueias nos alicerces da solidão

deitas a cabeça no meu peito

e em tristes suspiros...

finges que me amas... quando é impossível amarem este poeta de luz...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 25 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:38

Com a participação de Francisco Luís Fontinha - Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:55

O esboço atrapalhado das palavras incendiadas pelo teu coração,

a ilha afundada no centro geométrico do Oceano da escuridão,

os tímidos beijos engasgados na neblina falsa quando a manhã se masturba no teu olhar,

a confusão dos lábios quando há mãos fugitivas que acariciam o teu peito de anelar amanhecer,

fingir que...

… que existem flores no teu cabelo,

às horas adormecidas num triste calendário suspenso na parede da solidão...

e fogem,

e saltitam...

todas as madrugadas de desassossego,

o meu corpo se esquece de caminhar,

e arde,

o esboço na algibeira do cansaço,

o parvo pedreiro construindo muros invisíveis com sabor a paixão...

dos homens, dos silêncios embalsamados que transportam poemas,

poemas envenenados pelas tuas coxas de marfim prateado,

o esboço amor numa límpida árvore em pleno voo...

ao longe o mar..., só,

ao longe os azimutes do sexo alimentando espelhos nocturnos...

… que nem a própria noite aquece,

que nem os teus seios desejam,

perco-me na tua jangada de suor quando a tua pele de papel se deleita...

e uma estrada sem saída, e um carrossel de madeira em pequenas fatias de morte,

gritam eles...

“não temos sorte”,

e há uma casa que nos espera, e há uma casa vazia com pobres janelas...

não durmo, não leio o que escrevo,

por medo, por medo, por medo... dos espelhos nocturnos.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 25 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:57

24
Out 14

Onde habitas, meu amor das intempéries...!

regressadas visitas,

o adeus...

onde habitas, meu amor das nuvens encarnadas,

quando das tuas mãos rompem madrugadas,

e a melancolia...

nos abraços do dia,

onde habitas, coração incendiado,

sem sorrisos, e no desejo... inventas o cansaço,

e no desejo... os teus lábios de púrpura insónia,

não tenho memória, nem estória...

nas minhas tristes palavras,

onde habitas, meu amor das intempéries...

de vidro, de lata... de chocolate,

no olhar uma jangada,

e nos seios a janela com vista para o mar,

os rochedos dos teus sonhos,

onde habitas, meu amor de prata,

navio, caravela... sombra nocturna da cidade interrompida,

de vidro, de lata... disfarçada de aço laminado,

assassinas-me nos livros que nunca vou escrever,

amar, amar a montanha esquecida,

amar o amanhecer...

como se ama um cigarro a arder...

e no entanto, não me canso de te procurar,

endereço desconhecido,

País inabitado... há um planeta em polpa de tomate,

um desenho,

uma ribeira recheada de gente...

um café colorido de amargura,

e no fundo da chávena... as lágrimas de marfim...

a tristeza dos quatro ventos enamorados,

a vodka embriagada nas mãos de um Cacilheiro,

onde habitas, meu amor embrulhada em prismas de luz,

como um velho tecido estampado...

na inquietante avenida onde dormem os homens desgraçados.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:38
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23
Out 14

Os teus lábios são poesia

que os meus frágeis dedos acariciam...

são uma ilha

sem nome

deserta

com cabanas de luz,

os teus lábios são geometria

geometria cansada

riscos

traços longitudinais

… e verticais

que não beijam mais,

 

Os teus lábios não pensam

sofrem

ou não sofrem...

os teus lábios que mastigam as minhas palavras

quando uma caravela desaparece no teu olhar

e sorri... lá longe...

os teus lábios que se perdem nas escadas do amanhecer

os teus lábios que brincam no silêncio e não sabem escrever

… os teus lábios

madrugadas em papel

que o meu peito absorve

que o meu peito... transforma em cinza,

 

E voam

voam como insónias prisioneiras de um Oceano de estrelas

e voam

os teus lábios acabrunhados nos lânguidos lençóis de seda...

como pássaros sem penugem...

como espingardas sem balas,

os teus lábios que matam

matam palavras...

matam... matam cidades inteiras

os teus lábios são telegramas fantasma

sem endereço

sem medo da noite...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Quinta-feira, 23 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:05

22
Out 14

Vão morrendo as palavras de amar

quando desperta no amanhecer

o quadrado silêncio mergulhado no círculo lunar,

 

Faço-me à vida,

caminho sonâmbulo sobre a fogueira dos meus poemas

até que eles se transformem em nada,

olho-me no espelho da agonia, sinto na garganta a tempestade da paixão,

carrego nos ombros o peso do meu próprio caixão,

em vidro, e com fotografia a preto e branco para o mar,

saboreio o teu corpo nas pálpebras verdes dos livros não lidos,

perco-me em ti... sem saber se amo, sem saber se estou vivo nesta campânula de lágrimas,

e o desassossego inventa-me como se eu fosse um papagaio de papel,

de muitas cores,

como muitas cartas de amor

no tempo destruídas pelas suicidas lâminas da geometria,

 

Tenho saudades de ti...

minha Lisboa, meu amado Tejo... meu amante Cais do Sodré,

percebia nas paredes húmidas da noite um corpo em translação,

uma puta que procurava um ombro de gesso,

um gajo embriagado que cuspia finos fios de fogo...

e terminava quando a cidade acordava,

eu amava, eu não amava...

eu sentia nas amoreiras flores o beijo de ninguém,

o pavimento paralelepípedo da tristeza começava a transpirar,

ouviam-se os gemidos delas, ouviam-se os gemidos deles...

e ao longe,

um apito encurralado entre carris de aço em direcção a Belém,

 

(Vão morrendo as palavras de amar

quando desperta no amanhecer

o quadrado silêncio mergulhado no círculo lunar),

 

Esquecia as mãos na algibeira,

iluminava-me na fragrância madrugada quando um banco de jardim corria para o rio,

misturava-se com um velho Cacilheiro, às vezes... tossindo, às vezes... às vezes coxeando...

como um mendigo prisioneiro de um vão de escada,

como um marinheiro em busca de sexo, drogas... e um par de asas...

nunca voei,

e havia noites que sobrevoava a minha amada Lisboa,

como um louco,

como um prego de aço no barbear da manhã...

disfarçava-me de ponte metálica...

e desenhava sorrisos nos vidros pintados de negro embalsamado,

até morrerem todas as palavras de amar...!

 

 

Francisco Luís Fontinha

Quarta-feira, 22 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:00

21
Out 14

Do término dia entra em mim o morro da paixão,

ele, vestido de negro, começa a voar sobre os socalcos imaginados por uma louca,

desiste,

e deita-se...

descem as cinzas do sofrimento que dizimam toda a claridade reflectida no espelho da insónia,

aparece o sonho disfarçado de lâmina de xisto,

ouvem-se das encostas húmidas da pele o silêncio emagrecido de uma gaivota,

desiste, e deita-se,

como um corvo sobre a sua presa apodrecida,

há navios esquecidos nos meus lábios,

e do término dia...

nada, só o sangue triste de uma viagem sem regresso,

há um mapa que não me ajuda a regressar,

um clandestino beijo enforcado nas sílabas da noite,

e do término dia...

o amor,

em forma de carrasco,

uma carta escrita na algibeira,

um cigarro inseminado numa qualquer rua de uma cidade sem nome,

e um qualquer húmus redopia junto ao rio,

tenho fome, tenho medo deste amor sem marinheiros,

tenho medo das palavras invisíveis que aportam nos teus seios...

sento-me e finjo caminhar sobre uma fogueira habitada por gajas nuas...

… e nuas flores com um lencinho ao peito,

há espingardas suspensas na bandoleira da manhã,

peço um café,

e adormeço no sisal Outono,

e deixei de perceber o mar,

os rochedos enamorados que desenham no meu peito a solidão,

e esta casa funde-se como se fundem todos os metais...

quando o alicerce do abismo encerra nele o livro proibido,

não tenho janelas no meu olhar,

sinto-te entranhada nos confins de uma ilha inabitada,

sem uma cabana, sem um cão para conversar...

e adormeço no sisal Outono,

e deixei de perceber o mar,

do término dia entra em mim o morro da paixão,

ele, vestido de negro, começa a voar sobre os socalcos imaginados por uma louca,

desiste,

e deita-se...

até que o tempo se transforma em estátua e todas as lâmpadas se apagam,

o meu corpo evapora-se numa amoreira...

e tu perceberás que sou filho da noite,

e tu perceberás que sou a própria noite... só.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Terça-feira, 21 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:54

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