Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Nov 14

O vigilante nocturno olha-me e alicerça-se aos meus braços,

sinto-lhe o esqueleto enferrujado a caminhar no meu peito,

ofegante,

alimenta-se dos meus velhos ossos com odor a madrugada sem luar,

peço-lhe um desejo...

e... e nada posso desejar,

o vigilante nocturno é como uma âncora de luz sobre as minhas pálpebras envergonhadas,

que as flores seduz...

e aos jardins oferece poemas,

e... e palavras de amar,

o amor enfurece as árvores sem folhas,

nuas como as gaivotas ao entardecer...

 

Depois acorda o silêncio vestido de cidade,

e eu sem saber o que fazer,

os comboios saltitam dentro dos carris desalinhados,

os comboios parecem corpos a arder...

há cinzas laminadas de sangue no sonífero poético,

alucinações desorganizadas em grande multidão,

uns que choram,

e outros... e outros que choram por prazer,

e sem perceberem...

há uma placa de zinco onde habita uma ponte,

nunca conheci o seu nome,

nunca vi um sorriso nas suas treliças,

 

Têm fome as estrelas de papel que brincam no tecto da minha aldeia,

lêem pedaços de nada e alguns cubos de sombra,

escrevem na incandescente memória o álcool sobejante da noite passada...

ressuscitam os outros vigilantes e demais arruaceiros sem gabardina,

e o meu corpo de aço... tomba sobre o ombro de um transeunte desconhecido,

a cidade é uma seara sem espigueiros,

desalojadas enxadas em luta conta a pobreza...

têm fome as estrelas e os planetas,

mendigos travestis correndo montanha abaixo,

e suicidam-se nos rochedos da infância...

triste, triste esta vontade de escrever...

sabendo que nem às pedras pertenço!

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 5 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:57

Novembro 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO