Quando as algemas do silêncio poisam no meu finíssimo pulso de fugitivo,
ando em viagem há quarenta e dois anos,
sonhei dentro de um paquete,
que hoje...
hoje apenas sucata,
voei sobre a cidade do beijo,
e...
e do Tejo,
cansei-me dos apeadeiros sem transeuntes,
desertos,
sós... como os pedintes,
só... como o desejo,
Fui vagabundo nocturno,
magala desalinhado,
obstruído nas catacumbas da solidão,
drogado de profissão...
embriagado das sanzalas de granito,
com fotografias para o obscuro corpo de uma bailarina,
quando as algemas do silêncio poisam...
e eu, e eu longínquo como os pássaros em cartão,
dormi na rua,
vagueei pela cidade à procura de nada,
apenas caminhava...
e não acreditava,
E não acreditava na ausência,
e...
e no amor eterno,
amor de “merda”
só a cidade me alimentava...
e acolhia,
apaixonei-me por cacilheiros e marinheiros invisíveis,
fui trapezista junto à Torre de Belém...
e sentava-me no pavimento cansado dos fins de tarde,
imaginava-te num caderno de desenho Cavalinho,
escrevia nas páginas adormecidas do “Doutor Jivago”...
e hoje pertenço às “Almas Mortas” do Nikolai Gogol.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 6 de Novembro de 2014