O teu corpo radiografado por um louco poema
os teus ossos catalogados e encaixotados em pequenos cubos de vidro
a gaivota amar que voa nos teus seios
e não dorme
e...
e o teu corpo radiografado passeando na seara morta
as tuas coxas pinceladas pela mão do louco poema
e... e os teus ossos descendo a calçada do Adeus
pedindo esmola na rua dos muros amarelos
um vulto faz-se à vida
parte o invisível vidro do carro abandonado
e rouba o louco poema sem pronunciar a palavra “obrigado”,
O teu corpo que mergulha na minha mão
em fatiados abutres de madeira prensada
gritam
gritam e não fazem nada...
Há uma estória não terminada
uma canção escrita e guardada nas prateleiras da insónia
o teu corpo que chora
e sonha
e habita na minha memória
morta
como a seara deambulando no silêncio enfeitiçado
os ossos em pó
puro pó virgem...
sofrendo nos canos de uma espingarda
sofrendo...
o cansaço da naftalina madrugada.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 8 de Novembro de 2014