Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Nov 14

invento-te nos nocturnos cortinados da insónia

acaricio-te sabendo que não passas de um mísero desenho da minha autoria

não sei desenhar...

invento-te nas noites de água invisível

quando sei que lá fora...

… distante de mim

há uma tempestade de desejo em rotação

calculo o seu centro de massa

calculo o seu centro geométrico...

e descubro que és uma invenção de uma mísera folha de papel

sem odor nem corações

nem beijos

 

apenas um desenho meu

 

invento-te nas madrugadas cinzentas

quando todas as luzes dormem

e sonham...

e... e morrem nos meus braços

 

cacaréus

pedaços de ossos

cabelos teus que deixaste nos lençóis clandestinos de uma pensão sem nome...

e em frente à janela

o rio

a fome

 

cacaréus

cacaréus

… e cacaréus...

 

pedaços de nada sobejantes de uma noite em construção

ofegante tu

ofegantes os transeuntes em desalinhado cansaço...

e eu... e eu apenas queria desenhar-te no espelho do guarda-fato

 

e depois... e depois vestir a gabardina e fugir dos teus lábios

como um louco

sem perceber porque chove hoje...

sem perceber porque choram os pássaros do teu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 15 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:55

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