Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

04
Nov 14

Este machimbombo rabugento subindo a calçada,

cá dentro, algumas insignificantes malas sem destino,

uma guitarra,

e um chapéu de palha...

partilhamos os abraços nos cadeirões ensonados,

algures... ouvem-se os pergaminhos nomes das cidades perdidas,

faltam-me os cigarros e os livros que deixei no apeadeiro da solidão,

um lenço de papel chega-me para escrever qualquer coisa parva,

como todas as coisas parvas que faço...

evito abrir os olhos porque do outro lado da rua, uma roda dentada,

sobrevoa as árvores cansadas do Outono,

e este machimbombo que não anda...

 

E este relógio que não pára...

sufocam-me as tuas palavras de viajante que sobejaram de uma carta não lida,

nunca leio as cartas que me escrevem...

também... deixei de escrever cartas,

porque são apenas pedaços de papel,

com... com falsas sílabas,

e prometidas aventuras,

amo apaixonadamente a noite,

a noite travestida de cinzento alento...

amo as pedras acabadas de tomar banho,

quando em finais de tarde...

acorda o moliceiro... e o meu corpo se transforma em machimbombo rabugento.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

03
Nov 14

Pindéricos esqueletos sobrevoando o pólen embriagado

marinheiros raquíticos encostados ao mar salgado

esta vida de sangue entranhada nas mandíbulas da cidade

este vento envergonhado que se enforca nos meus abraços

os sinos da ferrugem engatados numa ruela quadriculada

a tarde que se afunda

e mata

nos estilhaços de uma espingarda

as mulheres procurando carícias debaixo das palmeiras

um poeta encardido

sentado numa cadeira...

e ninguém... e ninguém olha a ponte de nylon com cabeça de xisto,

 

O poeta enlouquece

e transforma-se em pedacinho de poeira

não escreve porque lhe falta a esplanada de Belém...

cerra hermeticamente os olhos de areia

e... e ninguém...

e ninguém olha a ponte de nylon

que o rio embala nas noites de neblina

os pindéricos esqueletos consumindo vodka falsificado...

os apitos de um drogado

quando os carris de aço desaguam em Cais do Sodré

e o magala desgovernado

tomba... tomba suavemente no pavimento florido,

 

O céu em chamas dançando nas espinhas do almoço

o guardanapo esbranquiçado poisado sobre o clitóris da esperança

gemem as sílabas nas ruínas que a tua voz devastou

canso-me das marés

e desta cidade sem escala

não encontro o fim do sacrifício

que o poema me obriga...

cambalhotas e palhaços encerrados numa tenda clandestina...

solto-me

e grito

e saltito...

como o encharcado luar no centro da tempestade...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 3 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:46

O silêncio me embala nesta jangada de dor

uma espingarda dispara

contra o meu peito

e a bala

não consegue matar-me

o jorro de palavras soltam-se dos meus lábios

prisioneiros

das tardes junto à lareira,

 

A ribeira

lá longe

camuflada pelas gaivotas sem nome

os barcos se afundam nas tuas pálpebras de enxofre

e os meus dedos se perdem na ardósia da noite...

o silêncio... de dor

uma espingarda em papel

tomba no chão ácido do cansaço,

 

Finalmente

todas as luzes do teu olhar se evaporam

como um vulcão selvagem

nos seios de uma montanha

há dentro da tua sombra

as cintilações do desejo...

e nas tuas coxas de diamante

perdem-se todos os poemas invisíveis da madrugada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 3 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:44

02
Nov 14

Os corpos incandescentes vivem na caverna espelhada

o amor cessa

porque um olhar se acorrenta às arcadas nocturnas da insónia

os corpos transparentes voam

e não regressam mais...

 

O difícil é partir

sem regressar

esconder-se nos claustros invisíveis do amanhecer

deixar sobre a mesa-de-cabeceira um simples bilhete...

parto e nunca mais regressarei,

 

Regressar porquê?

se ninguém notará a minha ausência...!

o amor cessa

e das palavras regressarão os abismos de um Oceano habitado por cadáveres

e em cada cadáver uma flor na lapela...

 

Os corpos...

fogem das ruas inanimadas com odor a Primavera

o amor cessa

como cessaram todas as andorinhas

e todas as gaivotas que conheci...

 

A caverna espelhada transpira solidão e embriaguez alicerçada aos barcos de papel

o menino de calções desenha nas sombras do entardecer

corações e triângulos que um adulto qualquer vai fotografar

e mais tarde...

queimar na fogueira do desejo.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 2 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:00

Não sabia o que era a saudade

até que os teus braços desfaleceram...

acreditava que nesta maldita cidade

recheada de cães vadios e palavras amorfas

encontraria os teus olhos de alegria

procurei, procurei...

e mal eu sabia

que deixaste de ter olhos

naquela tarde sangrenta

vi no espelho doente de uma qualquer loja

o teu rosto deformado

e as tuas mãos trémulas dançando no vento em alvoroço,

o amor é uma “merda”

a dor

o sofrimento

e a doença...

não sabia o que era a saudade

não sabia o significado de abraço...

segurava-me aos teus cabelos

e sorria como me tinhas ensinado

o coração batia

o corpo... o corpo de mendigo sonolento

se escondia

como os pássaros dentro de um cubo envidraçado...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 2 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:56

01
Nov 14

Tristes versos

estes

barcos esfarrapados que se afundam nos teus olhos

carcaças de ossos

gente aos molhos...

tristes versos dos mendigos sem solução

habitantes de uma cidade em alvoroço

dia sem almoço

carcaças

ventos e marés em confusão

estes

versos

sem nome

estes

estes barcos enferrujados lapidando calçadas e transversais loucas

mulheres cansadas

mulheres acariciando a madrugada

tristes

versos

os corpos em migalhas

em direcção ao rio da amargura

tristes

tristes tardes de literatura

que alimentam os mendigos sem solução

estes

versos

e ossos

este vazio dentro do meu peito incendiado

embriagados livros cambaleando na atmosfera

os círculos do coração... em espera

estes nomes

versos

e crianças...

procurando as árvores da infância

tanto medo... meu Deus...

medo da esperança.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 1 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

Desdenhado cansaço de viver

das distantes planícies de algodão

sofrendo sem querer

querendo...

o pão

as sílabas engasgadas na montanha do Adeus

as palavras desenganadas de um falso esqueleto

trôpegos feitiços de chorar

os poemas de escrever

cintilam na tua mão as cavernas da escuridão

lês a penugem da madrugada

dos sonhos desenhados no amanhecer...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 1 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:55

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