Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

31
Dez 14

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Do grito cinzento do silêncio

às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra

ama-se um poema

odeia-se uma flor acabada de nascer

fuma-se o último cigarro

inventam-se esconderijos no corpo de uma mulher...

o relógio não cessa de chorar

o barco que transporta a solidão...

ancorado ao meu corpo desprovido de agasalho

do grito cinzento do silêncio

às amarras vocais dos nocturnos desejos de pedra

uma cova... funda... me espera!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:10

31
Dez 14

Falsas partidas

estas noites enfeitadas de neblina

o composto químico do amor

em construção

o homem desespera pelo regresso das palavras

o falso coração no habitáculo do desejo

esperando que uma das janelas do luar...

se parta

se extinga nas labaredas da tua pele

falsas

partidas

em... em construção.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:00

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Há um beijo inventado

que habita nos meus lábios

há um corpo adormecido

em mim abraçado

há um poema no teu olhar

que transporta o cheiro do mar...

há uma ponte nos teus cabelos

quase a desmaiar,

 

o desenho no espelho embriagado,

 

há um livro nos teus seios

que não me canso de ler

e folhear...

há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...

um desejo invisível

um desejo embrulhado em capim

e pedaços de cacimbo

há um beijo inventado

… nos meus lábios

em silêncio

a escrita cuneiforme

entre sombras de mármore e ossos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:52

30
Dez 14

Dentro de ti

a noite desventrada

nas palavras por escrever

o medo de dizer... “Amo-te”

quando amar é planar nos sonhos de uma montanha

onde poisa o teu corpo

onde... onde habitam as tuas mãos

dentro de ti

a noite desventrada

nas imagens imaginadas

por um louco que teima em não dizer...

“Amo-te”...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:08
tags: , ,

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

O término do sono em constante sonolência,

a cabana do silêncio quase em ruínas,

violentas tempestades de palavras,

gritos e lágrimas,

em revolta...

como se existisse entre nós uma fogueira,

abandonada,

e... e só!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:03

29
Dez 14
(desenho de Francisco Luís Fontinha - Alijó)

Não tenho tempo para amar...

como se para amar fosse necessário tempo,

ser amado,

pertencer ao vulcão das tempestades,

não sentir

sentindo...

o desejo das palavras,

o significado das cidades de gelo,

 

não tenho tempo para ser amado...

o amor é um rochedo construído de velhos farrapos e alguns pedaços de aço,

o amor são esqueletos de papel...

no coração de uma mulher,

 

não tenho tempo para amar...

como se para amar fosse necessário tempo,

ser amado,

 

os sítios proibidos dos rios do teu ventre,

o medo de amar-te...

quando eu sou apenas uma imagem,

tão velha... tão velha como os candeeiros das ruelas viciadas,

tão velha... como as ruas da minha infância,

o triciclo em queda livre,

a sombra das mangueiras poisadas no meu sexo...

e eu, e eu sem tempo para amar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 28 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:10

Os poemas ao fim da tarde

este mesquinho silêncio

quando entra pela janela

e lá fora

um barco em espera

esquelético

cansado

farto do mar...

os poemas ao fim da tarde

com fome de matar

a voz do teu clitóris em tristes soluços na madrugada

os poemas ao fim da tarde... são poemas de nada,

poemas... poemas de amar

o estranho invisível quadrado com sorriso de vidro

há nas palavras a força da revolta

o corpo em lágrimas

que só a cidade...

que só a cidade consegue absorver

os poemas ao fim da tarde

o vento de sémen contra uma árvore

e os pássaros dos teus cabelos

brincando na seara

entre pedras e enxadas

sempre... sempre, sempre que um relógio acorda... e ninguém sabes onde habitam “os poemas ao fim da tarde”.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 28 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:01

27
Dez 14

O Eros sexo mergulhado nos lençóis da solidão,

o corpo em lágrimas de gesso...

a cidade em pedaços de vento,

o Eros sexo mergulhado nas janelas do Tejo,

a caravela do desejo regressando ao teu ventre,

os lábios da Princesa em cardumes beijos,

que só o mar sabe alimentar,

longe... o silêncio orgasmo das palavras não escritas,

longe... o abraço disfarçado de machimbombo...

voando como a gaivota do “Adeus”...

em pecado,

as palavras... o ventre... as coxas misturadas entre desenhos e sombras embriagadas,

e no entanto...

o Eros sexo... não pára de chorar,

o Eros sexo é o grito da noite depois de acordar.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:49

Nunca percebi porque choravam os pássaros da minha terra,

nunca entendi porque em determinados momentos...

se abraçavam as árvores da minha terra,

 

desenhava o sol na velha parede da casa que me recebeu,

havia frestas de engano e vidros partidos,

lá fora o frio parecia um rochedo intransponível,

tão alto como a montanha da saudade,

nunca percebi porque era tão fria a minha terra,

esta...

que amo,

mas é tão fria... meu amor...!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 27 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:47

27
Dez 14

Adoro esta vida de marinheiro,

sem porto para aportar...

nem coração para ancorar,

adoro esta noite,

apenas esta,

porque a solidão se entranha em mim como um vicio...

ou uma jangada de saudade,

adoro esta vida de marinheiro,

sem pouso,

sem... sem Oceanos para sonhar,

sem as amarras das palavras,

sem as ruas da cidade,

adoro esta vida de marinheiro,

sem glória,

sem vaidade para oferecer,

adoro

esta

vida

… de marinheiro...

com medo de sofrer,

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:13

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