Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão
que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar
não permitas que entre o mar dentro de ti
e se alicerce aos teus desejos
não tenhas medo dos cortinados cinzentos
que a madrugada esconde nas pálpebras do vento
como quem morre
em sofrimento...
Não saboreies os meus lábios encaixotados
como pedaços de cacos e miudezas...
que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração
não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...
Não
não saboreies os meus tentáculos de espuma
como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar
não confundas o amor com a amizade
não
não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas
pelo cansaço
ou... ou pelo Inverno em desassossego,
Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,
Inventa amanheceres de cartão
gaivotas de porcelana...
mas... não
não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014