Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Fev 15

Pintura_25_A1_Nova.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

Vivíamos numa casa adormecida, tão triste, meus Deus, e tão bela, escrevia nas paredes do quarto e via as minhas palavras engolidas pela humidade, eu era uma criança, tinha sonhos, e o eterno medo do silêncio, quando me deitava e antes de dar um beijo de boa noite ao candeeiro... não rezava porque nunca rezei..., mas

Silêncio,

Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e

Silêncio...

Que roupa vou vestir amanhã, mãe?

Silêncio,

E depois dos desejados sonhos do meu candeeiro

Porque nunca rezei,

A noite finalmente tomou conta de mim, abraçava-me, pegava-me na mão e levava-me até ao cais dos assombrados marinheiros, os barcos em pequenas romarias à esplanada do sexo, sentavam-me, olhavam a funcionária... e levantavam-se

Ela é muito gira,

Achas?

Gira Gira... é a minha vizinha,

Como?

Silêncio,

Inventávamos poemas no corpo embalsado que uma tia rica lhe tinha oferecido, coisas de ricos,

Como?

Gira Gira...

Que roupa vou vestir amanhã, mãe?

Silêncio,

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 6 de Fevereiro de2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:14

Pintura_218.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Não sei a quem pertencem os aplausos da tua alma

porque se movem as imagens sapateadas da neblina assassina

sobre as cadeiras vazias do abismo

sabíamos que habitavam nos teus lábios

abelhas

flores...

e paisagens pinceladas de Inverno

e mesmo assim

abrimos as janelas

derrubamos todas as portas de entrada

porque a noite regressaria brevemente

na companhia dos esqueletos vivos da solidão

não tínhamos frio

porque entre nós os livros de poesia acorrentavam-se às frestas da paixão

uma lareira enlouquecida em silêncio

como enlouquecidos eram os nossos corpos suspensos no luar

a cidade fervilhava

e crescia dentro do sufoco amanhecer

caminhávamos separadamente como duas roldanas descalças

sós...

como árvores em busca da morte

sós...

… não sei a quem pertencem os aplausos da tua alma

e que imagens são estas; “as imagens sapateadas da neblina assassina”.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:46

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