Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Fev 15

Desenho_A1_074.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

Partíamos sem regresso, ouvia dos pulmões do paquete a respiração ofegante, a cidade desembrulhava-se do silêncio do mar como um rebuçado acabado de atracar ao cais da infância, só tínhamos um caixote com algumas recordações, retratos, poucos, e roupas...

E o poeta?

Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,

Partíamos...

Sem regresso, inventava a “mulher clitóris” e percebia que os Mão Morta pertenciam ao meu futuro, e que um dia

O Poeta?

Morreu, e que um dia mataria as horas e os minutos...

“mulher clitóris”,

O Rossio erguia-se do manuscrito sem título, perdido, a morte disfarçada de cigarro, o Rossio entranhava-se no meu peito, as Avenidas pertenciam-me, como todas as janelas com fotografia para o mar,

A ponte,

O fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e fugiram...

Regressar?

Partíamos...

Sem perceber o que era a Saudade...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Fevereiro de2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:10

As quatro esferas do silêncio

entrelaçadas às três rectas da solidão...

encontrar-se-ão no infinito?

De mão na mão

passeando na cidade faminta das abelhas?

e... e o poema proibido?

Amar-se-á como se amam os pássaros

e as plantas...

 

O esqueleto simplificado da geometria do cansaço

as lâminas da insónia

como guilhotinas descendo sobre os meus braços...

 

E... e amanhã?

 

Um calendário ferrugento

galgando o rio em pequenos círculos de gelo

uma caneta em suicídio

no bolso da paixão

o homem arde na fogueira do amanhecer

acreditando que há nos relógios de pulso...

amor

e palavras para escrever...

 

E... e amanhã?

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Fevereiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:57

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