(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer,
desassossegadamente, o teu corpo entrelaçado nos meus braços de xisto,
descendo cada socalco meu,
entre nós... o rio
e a saudade dos Sábados folheando livros,
e beijos,
perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer
como se fosse um pássaro sem Pátria,
fugindo da lentidão das coisas belas,
os cigarros em tristes sorrisos de esferovite...
boiando como um carnívoro na liberdade das palavras,
com sotaque a náufrago envelhecido,
Sinto no corpo,
as garras e os fios de luz da loucura,
as cabeleiras falsas voando nos meus ombros
em chocolate embriagado,
os teus lábios pincelados de amanhecer...
e todas as janelas encerradas,
dentro de um caixote em madeira,
tarecos, miudezas e esqueletos de vinil,
a viagem sem regresso,
quando os seios da noite
mergulham nos alpendres floridos
e tu... junto à lareira da paixão,
Um livro,
Embrulham-se em nós as personagens da escuridão,
da tua mão
sinto
em pequeníssimas fatias de luar
a saudade e o perigoso feitiço do amor,
o livro saltita em nós,
come-nos e acende todas as lanternas do ciume...
não venhas, hoje, meu amor,
um livro,
e embrulham-se
em nós as lâminas da poesia...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015