Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Fev 15

Desenho_A1_089.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer,

desassossegadamente, o teu corpo entrelaçado nos meus braços de xisto,

descendo cada socalco meu,

entre nós... o rio

e a saudade dos Sábados folheando livros,

e beijos,

perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer

como se fosse um pássaro sem Pátria,

fugindo da lentidão das coisas belas,

os cigarros em tristes sorrisos de esferovite...

boiando como um carnívoro na liberdade das palavras,

com sotaque a náufrago envelhecido,

 

Sinto no corpo,

as garras e os fios de luz da loucura,

as cabeleiras falsas voando nos meus ombros

em chocolate embriagado,

os teus lábios pincelados de amanhecer...

e todas as janelas encerradas,

dentro de um caixote em madeira,

tarecos, miudezas e esqueletos de vinil,

a viagem sem regresso,

quando os seios da noite

mergulham nos alpendres floridos

e tu... junto à lareira da paixão,

 

Um livro,

Embrulham-se em nós as personagens da escuridão,

da tua mão

sinto

em pequeníssimas fatias de luar

a saudade e o perigoso feitiço do amor,

o livro saltita em nós,

come-nos e acende todas as lanternas do ciume...

não venhas, hoje, meu amor,

um livro,

e embrulham-se

em nós as lâminas da poesia...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:30

Desenho_A1_022.jpg

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

As tristes viagens ao cacimbo da infância, o sombreado rosto no pavimento térreo e sem nome, as mangueiras no retrato do meu avô, de machimbombo na mão, abria-se o portão de entrada, um beijo, infinitos abraços... e o sentar numa cadeira de vime,

O cansaço disfarçado de saudade, a tela do silêncio em pequenos suspiros de amor, o sexo mergulhado nas frestas do passado, a morte e a loucura, e uma equação irresolúvel, menstruada nas sílabas da madrugada, não sei o significado desta noite,

Faltam-me as palavras,

E os desenhos,

Faltam-me as palavras certas para a tua boca de verniz, e quanto aos desenhos

Uma porcaria,

Sem nexo, abstractos como o teu sorriso, e tristes como o final da tarde junto ao rio, O Tejo embriagado nos meus lábios, os esqueletos de palha ardendo na maré, e uma porcaria

Os meus desenhos?

E tu,

Uma porcaria como todas as porcarias da minha vida,

E tu,

A “Divina Comédia”...

Entre as minhas pálpebras de arroz,

 

 

Francisco Luís Fontinha . Alijó

Domingo, 15 de Fevereiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:10

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