Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Fev 15

Desenho_A1_050.jpg

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,

Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,

Faltam-me as tuas mãos, mãe,

Café?

Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,

Bom dia, mãe...

Meu querido filho!

O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,

Que és enigmático, meu filho...

Que sim, minha mãe,

Que sim,

Telefonaram da Rua dos Mendigos?

Para mim, mãe?

A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético...,sabes com é, mãe,

Pois,

Sei que semore sonhaste comigo,

Eu?

Sim, tu, mãe,

Quando dizias que aos três anos de idade já voava...

 

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:43

Desenho_A1_048.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Estes versos não têm destino,

imagino-me na penumbra saudade das arcadas em flor,

janelas prateadas,

com grades de nylon,

âncoras, barcos encalhados no meu peito,

o sal,

e a noite,

quando termina o calendário suspenso numa parede sem memória...

e o mar avança para mim como um cão faminto,

tão faminto como a própria sede,

a tranquila viagem nos confins da paixão,

como se alguém apagasse todos os candeeiros da cidade,

e todas as sombras do luar,

amanhã estes versos...

num mísero caixote perfumado,

com corações de areia húmida,

e nem assim conseguem acordar as jangadas de silêncio

que vivem enclausuradas numa rua sem nome,

nem idade...

estes

versos

não

têm destino...

ou estória.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

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