Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

22
Fev 15

Acrílico_Novo_002.jpg

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

A aldeia padece de claridade, existem fios de escuridão nos telhados cansados das palhotas de algodão,

Enigmático, eu?

Nunca tinha assistido à dança de um caixão...

Já imaginaram o dançar de um caixão?

Há tripas e...

Moelas,

E palavras sem coração, sentia-me embriagado nas mãos do amanhecer, sentia-me um miúdo encostado à sonolência da idade,

A aldeia em chamas, os campos esbranquiçados na tela do desejo imaginavam canções de moluscos e alguns grãos de areia,

O desenho teu na cidade dos alicerces alienados, os bares em combustão, as miúdas dançando canções de solidão,

Amas-me?

Que não,

Que a arte vive e vai morrer no teu olhar,

Ouves-me?

E palavras sem coração, avenidas nuas, travestidas de machimbombos reumáticos voando sobre a cidade, eu... eu... adormecia,

Inventava beijos nos teus braços, a minha primeira paixão, imaginava-te uma flor triste e cansada, nos circos ambulantes da saudade,

 

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 22 de Fevereiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:51

Desenho_A1_065.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

O amor suicida-se nos lábios do sorriso de xisto,

uma carta poisa respeitadamente sobre uma almofada granítica,

impregnada de silêncios

e fósforos adormecidos na inocência do poema,

faltam-me as palavras...

oiço-o nos braços do seu amante,

inventado beijos

e livros entranhados nos socalcos do desejo,

há no Outono uma noite em despedida,

a sinfonia da saudade

nas clarabóias do sexo,

e lá fora todos os transeuntes são imagens a preto e branco,

expostas numa parede branca,

descendo a calçada,

virava à direita,

o engate,

a rua,

em nada,

como lâminas de sono contra as marés de prata,

não quero os sonhos

nem os seios dos caixotes de vidro

que habitam as minhas mãos de medo,

o amor suicida-se

nos lábios do sorriso de xisto... e a penumbra é uma estátua de gelo...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 22 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:17

Desenho_A1_082.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Eles chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã, brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,

Foder num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...

Sabíamos que o corpo não pertencia às nossas vidas,

Clandestino, eréctil nas disciplinas do abismo, o poema esfomeado esperando o amante suicidado,

amanhã, amanhã nascerá um cansaço de medo no afastamento dos círculos das cidades embriagadas,

Sem iluminação, sem mulheres ou bares para combater a distracção, uns panfletos expostos na parede xistosa,

Há Tripas,

O caixão dançava no centro da sala de estar,

Confesso,

Nunca tinha assistido à dança de um caixão...

Já imaginaram o dançar de um caixão?

Há tripas e...

Moelas,

 

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 22 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:05

Fevereiro 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO