Sentava-me no Tejo a contar cacilheiros, no final da tarde, depois de alguns cigarros, percebia que todos aqueles cacilheiros pertenciam ao exército dos apaixonados anónimos, tristes, convictos, passeavam-se como se fossem crianças num qualquer recreio de uma escola já extinta, encerrada,
Morta
Morreu, o Miguel trazia na algibeira meia dúzia de moedas encardidas pela sombra da noite, dormia debaixo de alguns cobertores de cartão, antes de adormecer desenhava no passeio pedestre algumas das imagens sem nome, de tantas outras... as fotografias de família
Morta?
Pais, avós... irmãos?
Sentava-me no Tejo, brincava com as gaivotas, saltávamos à corda, pegava num cinzeiro e esvaziava a algibeira quase...
Morta?
Irmão de papel, fumado, defumado, as palavras no quase... e ele... procurando irmãos invisíveis numa cidade invisível, não há miúdas nesta terra? Ainda é cedo, mais logo, talvez
Quase a desmaiar, sem sonhos, talvez imaginasse esta terra a terra prometida, mas não
Esqueceu-se do aparelho, Sr. António? E agora... como vai ouvir-me...! Sentava-me junto ao Tejo, mas não, fumava charros de areia enquanto a preia-mar se abraçava a mim, beijava-me, fodíamos como dois livros entrelaçados...
Ẽ?
Toca o telefone, morta...
Morta?
Quase...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 4 de Março de 2015