Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Mar 15

Os berros argamassados da menopausa, o sal brincando nas encostas do abutre negro, a carne em putrefacção, distante, os berros

Amanhã vamos?

Berros, os berros das medusas entranhados no corpo, os sonhos morrem, morrem os beijos e as carícias da madrugada, menstruais palavras dentro do poema, gritam, da menopausa, perdeu-se o silêncio eterno das andorinhas em flor,

João?

Sim, pai,

Onde puseste os meus óculos?

Sei lá...!

Dentro da fala, os sons em delírio, porque dentro deste quarto habitam livros decadentes, desenhos sem rosto, imagens, fotocópias de fotografias a preto e branco, muito longe

João?

Sim... pai...!

Os homens chegaram, temos de retirar todas as rosas do nosso jardim, não vamos deixar que nos penhorem a melhores rosas da aldeia, pois não'

Não, pai...!

Aos berros, da menopausa, o sal brincando nas encostas do abutre negro, sobre ela o beijo desenhado na areia, colorido, embrulhava-a numa estrofe envergonhada, levava-a para as cabanas dos sonhos adormecidos, cerrou os olhos

Foi bom, amor,

Só?

Os olhos na cárcere do sofrimento,

Stop...

Só, as sílabas dos fósforos em aventuras,

Stop, aos berros... o Rossio embriagado...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:22

Tenho na sombra do sono

um pilar de areia

uma casa em ruínas

sem telhado

sem braços

sem cabeça

tenho na sombra do sono

o cansaço das palavras

o sorriso do poema

enquanto o poeta gagueja

sofre

e sofre

 

(sem braços

sem cabeça

sem telhado)

os olhos da serpente

fingindo corações de luz

como charcos de lama

sapateando junto ao mar

e eu

na sombra do sono...

inventado papéis de amar

comestíveis

ao pequeno-almoço

 

(sem braços

sem cabeça

sem telhado)

este poema disparado

pela mão do sofrimento

levanto-me da insónia

pensando que já acordou o dia

levanto-me do dia...

acreditando que já é noite

escura

húmida

e vagabunda...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

Está escuro

no exíguo espaço dos teus braços

mantenho-me aceso como uma fogueira invisível

no meio do campo

deserto

sem árvores

pássaros

ou... enforcados marinheiros

procuro a enxada do silêncio

e gemem as pedras xistosas dos lábios da alvorada

escuro

nada

 

como o transeunte sentado

na Calçada da Ajuda

procura

procura o carteiro

carta escrita

sem remetente

vem a morte

e leva-o para a biblioteca

abre um livro

folheia-o como se fosse o teu corpo adormecido sobre as lágrimas do veneno...

afugenta as palavras

e a tempestade alicerça-se-lhe no peito

 

começa a voar nos cortinados da noite

acende o seu último cigarro do dia...

e pergunta-se

quando?

quando terminará este dia...

a morte dos sonhos

envergonhados

lânguidos nas janelas sem vidros

o mar dança-lhe na algibeira da solidão

bebe um uísque...

e acredita que a poesia

habita no terceiro esquerdo dos teus seios...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:29

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