Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Mar 15

(para a minha mãe)

 

 

Anoitecia sobre os teus ombros, sombras de sal voavam no teu olhar, como serpentes de papel a brincar numa árvore, eu brinco, tu brincas...

Amanhã?

A luz, os anzóis da tristeza suspensos nos desejos de cristal, não durmo, os sonhos, morrem os sonhos, morrerem as amendoeiras em flor,

E eu,

E eu?

Amanhã, cor-de-rosa, húmidas canções de Primavera nas ilhargas do silêncio, habito, tu habitas e ele

Habita?

Onde, onde?

Ele perdido numa tragédia serrana, a montanha crescia, e ele

Habita,

Anoitecia, e ele caminhava ribanceira abaixo, entra nos picos da alegria... e todo o corpo desenhado, círculos de sangue vagueando nos seus braços, tive medo, mãe, amanhã, mãe, amanhã saberás porque existem os cavalos de areia, aqueles

Como os do Mussulo»

Sim, mãe, sim... como os do Mussulo...

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:03

Não consigo encontrar os alicerces do dia

das crateras da tua voz oiço o salivar ciúme da solidão

viver dentro de uma caixa em cartão

e a noite desaparece na carlinga do beijo

descem sobre os teus ombros os rochedos da paixão

as palavras emigram como sementes de vento

contra as ruínas do teu peito

ausente

as pessoas

os dias

as viagens sem regresso

na ponte metálica das marés de vidro

 

há na tua voz um círculo de luz

que vagueia entre o luar

e a sofrida canção da madrugada

o xisto poisa na tua mão

como se ele fosse uma rosa embalsamada

folhear os joelhos dos livros enganados

o rio em suicídio contra a montra do sofrimento

e dos teus seios

oiço...

o salivar ciúme da solidão

na cárcere

doido

 

perdi-me neste emaranhado complexo de equações

sem solução

o quadriculado papel em chamas

ardente dos lábios em fuga

e não suporto as lâminas de aço do medo

perdi-me

doido

na cárcere das ardósias clandestinas e vaidosas da tarde

a tarde...

é tarde meu amor

é tarde

quando adormeço nos teus braços.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:20

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