Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

12
Mar 15

Não sei, António, não sei

Regressar, porquê?

Hoje acordei cedo, Margarida embrulhada nos lençóis do Pôr-do-Sol, e lá longe

Cintilações dos minguados beijos nos teus lábios, os seios de cera desenhados nas eternas mesas-de-cabeceira

Louco, ele?

E lá longe, murmúrios e incorrigíveis uísques brincando dentro de um livro, Margarida

Amor?

Amar...

Os homens tinham regressado da faina, olhava-me um barco, tive medo, confesso,

Eu confesso

Tu confessas

Ele confessa,

E confesso que fiquei perplexo, tão triste, tão triste como as flores de Inverno,

A faina, peixe... nenhum, nada, nada ao quadrado vezes seis a raiz quadrada de mil noventos e sessenta e seis, o pequeno-almoço, as torradas,

Para niguém, devolvida

Endereço desconhecido,

Ele confessa,

Um galão, escuro,

António?

Sim, amor,

Hoje,

Hoje o quê, meu amor?

Hoje não vou escrever palavras de chocolate...

 

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 12 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:50

ausento-me deliberadamente das sombras envergonhadas

que habitam os socalcos da saudade

sou um ninho de cacos

e pequenas películas de silêncio

pela madrugada

oiço a tua voz aprisionada nas frestas deste cubículo

há entre nós um espelho cansado

e triste

ausento-me dos teus lábios

e perco-me nas palavras sem nome

como as ruas da tua cidade

ou da tua aldeia

 

o musseque

fervilha

transpira poesia

e o teu cabelo suspenso numa fotografia

tão distante

o mar

e as marés de sono

que me embrulhavam

hoje

não mar

não sono

nada

 

amar

amar

amar as flores e os desenhos embalsamados

correr montanha abaixo

deitar-me sobre ti

apenas

o peso das nuvens pinceladas de alfazema

a aceleração

acorrentada a uma equação

a física

a matemática

e... e amar

 

nada

os separa

os fios de sémen perdidos no cacimbo

o cachimbo em brasa

lúcido

de braços abertos

e abraça-me

e beija-me

como se beijam todos os livros

folheados

e no entanto

ausento-me deliberadamente das sombras envergonhadas...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 12 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:35

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