Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Mar 15

A guerra,

Perdemos tudo, o meu pai morto em combate,

Amor de mãe,

Pai,

Não o conheci, apenas algumas fotografias de espingarda na mão, António sabia que seria a sua última noite, e mesmo assim, escreveu o seu último poema,

Dedicado a “Deus”,

Um Ateu, Pai?

Perdemos tudo, a fala, as palavras e os abraços do cacimbo, os cacilheiros em cio redopiando como cobras amestradas, o circo, a aldeia colorida de sapatos e sandálias de couro, os calções e o triciclo, ele

Dedicado a “Deus”,

Não guardo rancor, o ditador morto, felizmente cessaram as espingardas do ciume, vagamente oiço o teu respirar, ele

Pai,

Não o conheci, e ele embrulhado em quatro pedras de espuma, o cachimbo da solidão, partilhávamos todas as carícias do abismo, e ele

Louco,

Apaixonado.

 

 

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:39

o engate suspenso nos anzóis da tarde

à mão

regressa a caneta da solidão

e há nuvens de papel nos olhos do poema

és livre

de voar

sobre os corações de xisto

que habitam as imagens a preto e branco

do Douro

navegar

subir ao luar

e,

 

e abraçar-se aos vulcões de areia

dos homens

e das mulheres

de sombra,

 

imaginar

desenhar nas entranhas pálpebras de amar

o silêncio do beijo

à janela

o mar avança e nos leva

somos dois

talvez...

três

o engate

à mão

suspenso nos anzóis da tarde

a tarde... a tarde dos farrapos de vidro...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:35

Árvore

que cai no lamacento pavimento do sorriso

se deita

e fica

imóvel

tranquila

na árvore

a conquista não conquistada

o fervoroso sono da alquimia

o centro

o ponto imaginado pela mão do regresso

e fica

 

árvore

caída na circunferência do amor

e a paixão

imóvel

corre

corre...

porque a terra é um poço invisível

porque há nas palavras pequenos silêncios

a humidade

dos corpos

no chão

o cheiro

 

que parte

e não volta

o teu perfume secreto

nas pálpebras da manhã

e fica

árvore

sofrida

perdida nas pedras da calçada

desce e sobe

e senta-se...

no chão

dos narcisos em putrefacto esqueleto da escuridão nocturna...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:53

“Fodes comigo ou não...” o poeta para o poema, embrulhado nas sílabas da ira, o medo, a fome construída em cartão, um sonho de luz abrigado nos teus olhos, e ele

Pai, o que é “foder”?

E ele, pincelado de mendigo

Filho,

Sim, pai,

As palavras...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 15 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:42

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