Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Mar 15

Não, não amanhã, amanhã vou à cidade, deixar o meu cadáver para ser enviado para a Metrópole, uma ardósia no peito, 123768979/66,

Só isso, pai?

Só isso, quando chegamos,nada tínhamos, apenas um caixote de nada, um rio nas veias... e tu

O mar, pai?

Morreu, disseram-me..., não percebi, morte!!!!!

O que é a morte, pai?

Voar, 123768979/66... em combate, o silêncio do Grafanil, os sorrisos das mangueiras nos meus lábios,

E...

Pai?

Sim, filho, Margarida reaparece da escuridão, tinha como hábito brincar na areia branca da praia dos sonhos,

Mãe, o pai?

Ficção, tudo isto, nada, a dor, acordava de madrugada a gritar por granadas, G3 e literatura, literatura, mãe?

Poesia, textos, trazia na algibeira da farda...

Farda, mãe?

Poesia, textos, trazia na algibeira da farda... toda a sua estória, as canções de menino, os primeiros beijos,

Margarida?

Sim António...

Viste os meus livros de “AL Berto”?

Talvez no chão, a carta, o sorteio

Três milhões de mortos,

Mortos?

Não, mortos não, Euros

Três milhões de Euros, meu filho?

Sim, mãe, sim...

 

 

(Ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:32

Esta casa em alvorada sinfonia

o som das palavras contra os cubos de xisto

que habitam as montanhas da insónia

o sono

em suspenso

GREVE

hoje

em alvorada sinfonia

esta casa

velha

desabitada

triste e cansada...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:46

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