Não, não amanhã, amanhã vou à cidade, deixar o meu cadáver para ser enviado para a Metrópole, uma ardósia no peito, 123768979/66,
Só isso, pai?
Só isso, quando chegamos,nada tínhamos, apenas um caixote de nada, um rio nas veias... e tu
O mar, pai?
Morreu, disseram-me..., não percebi, morte!!!!!
O que é a morte, pai?
Voar, 123768979/66... em combate, o silêncio do Grafanil, os sorrisos das mangueiras nos meus lábios,
E...
Pai?
Sim, filho, Margarida reaparece da escuridão, tinha como hábito brincar na areia branca da praia dos sonhos,
Mãe, o pai?
Ficção, tudo isto, nada, a dor, acordava de madrugada a gritar por granadas, G3 e literatura, literatura, mãe?
Poesia, textos, trazia na algibeira da farda...
Farda, mãe?
Poesia, textos, trazia na algibeira da farda... toda a sua estória, as canções de menino, os primeiros beijos,
Margarida?
Sim António...
Viste os meus livros de “AL Berto”?
Talvez no chão, a carta, o sorteio
Três milhões de mortos,
Mortos?
Não, mortos não, Euros
Três milhões de Euros, meu filho?
Sim, mãe, sim...
(Ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Março de 2015