Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

23
Mar 15

Não me lembro, meu filho..., não me lembro..., a vida era complicada, não tínhamos dinheiro para nada

Nada, pai?

Nada, meu filho, os dardos da pobreza alicerçavam-se aos nossos braços, regressava o beijo, e

António?

Sim, meu querido!

Os bisontes da memória, corridas loucas nos corredores do sonho,

A ressaca...

Meu filho, porquê?

A ressaca espancada pelo corpo em delírio, os arrepios, a diarreia, não

Não?

Não pai, não aguento mais esta vida de marinheiro, sem barco, sem cais para aportar, ah... as cordas

Cordas?

Claro, como pensas aprisionar o barco dos teus sonhos...

Em liberdade, em liberdade... meu pai...

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:14

Os dias nefastos da melancolia

a palavra envenenada

na boca de uma caneta

triste

e só

o círculo do desejo

desenhado na ardósia noite do sonâmbulo beijo

os dias

do enforcado movimento pendular

contra a janela do meu quarto

as sombras

brincam nas almofadas da solidão

 

dás-me um beijo

e partes

como uma imagem

ao despedir-se e o vento a leva

sem perceber

que a morte

é o fim da fotografia

negra

encurralada nas ruelas do abismo

demoro-me

e negra

quando acordam os silêncios da Primavera...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 23 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:49

As andorinhas pintadas na fachada do desejo, o corpo transversal entre dois pontos sem coordenadas, o vazio, a carta regressada do nada

Amo-te, meu querido,

Não sei quem é, preenche-me os sonhos, e brinca na minha cama

António?

Sim, Margarida!

E brinca na minha cama como a criança acabada de nascer, as primeiras palavras, o primeiro poema, a primeira paixão, o amor, a desobediência do coração de prata, a mina mergulhava nas canções Primaveris, as orquídeas desenhavam círculos na sombra da tempestade, pai?

Sim, filho...

A guerra,

Que tem a guerra?

Não me lembro, meu filho..., não me lembro...

 

 

(ficção)

Domingo, 22 de Março de 2015

Francisco Luís Fontinha . Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:00

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