Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Mar 15

Não me contes a estória

Aquela

Do coitadinho sem dinheiro

A sua riqueza era a literatura

E a poesia

Tínhamos construído a tenda do silêncio

Alicerçada às tuas coxas

Como serpentes em aço

Voando

Gritando…

Não

Não me contes a estória

Aquela

De…

A tarde mergulhava no sémen da tristeza

Os barcos brancos

Roucos

Sós

Caminhando nos teus lábios

O poema habita no sexo do poeta

O teatro encerrado

A casa de putas embrulhada na insónia

Não tenho palavras

Para aliciar o teu cigarro

A morte vive nesta casa

E nesta casa vivem

Livros

Velhos

E loucos

Jardins de naftalina

Escrevo-te

Meu amor

Vivo apressadamente no intuito de um dia

Amar-te

Não acredito

Nas palavras

No chocolate derretido entre quatro paredes

O colchão envenenado

Morto

Amado

O teu corpo de mogno

As flores

E os socalcos envidraçados do abismo…

Não sei… meu amor

O que é o amor?

Uma espingarda

Um canhão de beijos…

… ou… o amor

A paixão tridimensional da razão

O coração arde

E lança-se ao povo

Gritam

Choram

As luzes da aldeia

E sem o saber

Ele

Desculpe… quem é ele?

O esqueleto de pano…

Do meu sonho

Nublado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 20 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:40

Pareço um sedimento

Quando acordam as abelhas

E as migalhas de gelo

Que não pareço

Sonham nas árvores do teu jardim

Sou o vagabundo transatlântico

Desgovernado

Como sempre fui

Desde que nasci

Quando abriram a janela do perfume

E lá estavam elas

Todas preenchidas

 

Empilhadas

As nuvens de um Domingo

Sem endereço

Ou… ou identidade

Sinto no teu olhar o luar de Janeiro

Porque nasci em Janeiro

Era Verão

O calor entranhava-se na minha mão

Ouvia o sorriso dos parvalhões

À minha volta

Tão pequenino

Tão…

 

(o caralho que vos foda, pensava eu)

Quem são estes gajos

E estas gajas…

Ninguém me respondeu

Ninguém

Hoje são apenas palavras

Mortas

Numa cidade

Morta

Como as ditas migalhas de gelo

Cambaleando num calendário enforcado numa parede

Havia riscos

 

Letras indecifráveis

Papéis velhos

Não amigáveis

A guerra

O silêncio das balas

Cruzando o berçário

Eu era um ranhoso

Rabugento

Sempre aos berros

E mal abri os olhos

Barcos

O meu primeiro sonho

 

Fugi

Mudei de nome

Hoje não sei onde nasci

E se essa terra ainda existe

Ou… ou é apenas uma imagem sem coração

O dia deitava-se sobre a pedra fria da morgue

Eu percebia que lá fora

Alguém

Me esperava

Para quê?

Se eu nunca quis ninguém…

Ao meu lado para me esperar

 

Eu só queria partir

E voar…

Pegar numa faca

E cortar todos os segredos

E todas as sombras

De um quintal

Com mangueiras

E um papagaio em papel

Desenhos

Desenhos no meu peito

Que hoje escorregam quando me levanto

E se transformam em lixo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 30 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:02

As arcadas tristes da memória

O silêncio insigne da estória

Quando o corpo geme nas minhas mãos

No vão de escada imaginado

O teu sexo nos meus braços

Sinto o peso da tua solidão

Como se fosse um ponto esquecido no espaço

Atrevo-me a ajoelhar

No altar da poesia

Um uivo

Um gemido

Uma… profecia

Na maior das hipóteses

O corpo amarrado ao silêncio

Sinto o teu perfume

Nas minhas pálpebras de estanho

Perder-me

Em ti

Sem saber que as coisas boas da vida

São círculos de chocolate

Na ardósia das palavras

Não falo

Não imagino as pedras de xisto

Comestíveis na alvorada

Nos teus olhos

As palavras me enforcam

E matam

Antes de adormecer

Lapidando o teu corpo de amêndoa

Nas sílabas tontas da paixão

Meu amor

Porque são tristes as tuas nádegas?

Porque são alegres os teus íngremes salivares desenhos

Do desconforto

Amar-te

Não… não amor

Não quero

Voar nos braços da inconfidência

Trabalhar

Nos poços da solidão

Ser o Príncipe perfeito

Imperfeito

Amargo

Amanhece na tua boca

E visto-me de gaivota

Louca

Das palavras

Às palavras…

 

Francisco Luís Fontinha - Alijó

Segunda, feira, 30 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:25

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