Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

31
Mar 15

O fim

Duas rectas paralelas…

… Abraçadas

No infinito cansaço

A sinfonia das pálpebras em veludo

Na sombra do amor

Gaivotas tontas

Tontas… tontas flores de papel

Sobre o teu ventre

Envenenado

O fim

Duas

 

Rectas

Longas

Infinito…

Abraçadas

Triste

A distância

Triste

A solidão nos dias em companhia

Os livros

Me alimentam

Abro a janela

O Douro à espreita

 

Nos barcos azuis da madrugada

O comboio pára

Os homens e as mulheres

Nos livros

Triste

Infinito…

E longas

As tardes sem ti

Adormecia no teu colo

E inventava aviões de musgo prensado

Olhava as lâmpadas dos teu olhar

O tecto dos teus seios

 

No mar

O comboio se esconde no teu púbis

E entre apitos

Uma nova paragem

As mão

Escalam o teu corpo de cera

Em chamas

Não sei o teu nome

Meu amor

Sei o dia em que nasci

Sei o dia em que vi o mar pela primeira vez…

Mas o teu nome

 

Meu amor

As mãos

Nos livros

Triste

Infinito…

E longas (pernas)

Ruelas sem saída

Mulheres de ébano

Semeadas no passeio da ilusão

O esqueleto meu amor

Dançando sobre a praia

Nua (ela ou ela?).

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 31 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:24

As línguas abraçadas no céu-da-boca

A chuva argamassada contra o silêncio nocturno

Em redor de dois corpos invisíveis

O prazer nas palavras

Saltitam enquanto folheamos um livro sofrido

Em lágrimas

Da morte inanimada

O Sol embrulhado dentro de quatro paredes

O tecto desce

Desce…

E tomba no pavimento lamacento de um dos corpos

O fim da tarde evapora-se

Nos lábios de um cigarro

Negro

Noite

Sombrio

Como os pássaros da minha aldeia

Subo aos teus cabelos

E sento-me nas avenidas envernizadas da madrugada

A cidade cresce

Os automóveis enfurecidos

Em raiva

Como os cães selvagens

Montanha abaixo

A ribeira espera-os

Como visitantes insignificantes

O sexo suspenso nos cortinados do desejo

Os gemidos

E as sílabas da saudade

Há no teu corpo

Vapor de água

E cristais de prata

A imagem das tuas coxas em finas lâminas de desassossego

O mar

O mar dentro de ti

Construindo marés de esferovite

E alguns sorrisos apaixonados pelo sono

Perdi-me neste tempo infinito

Quando ainda existiam equações de areia

No quadriculado olhar

Hoje

Sou uma caneta avariada

Que deixou de escrever palavras

Que…

Que tem uma lápide sobre a secretária

E uma fotografia

Húmidas vogais

Agarradas às escadas da paixão

Sem saberem que a morte

Não é a morte

Que o medo

Não é… o medo

Voar

Sofrer enquanto caminho sobre um arame

(sempre quis ser trapezista)

Artista de circo

Palhaço

Andante…

Sem nome

Quando acordo e sinto que estou vivo

A praia parece a eira de Carvalhais

Graníticas espigas de cio

Nas frestas do sonho

Oiço o sino da Igreja

Quase a desfalecer

Tensão alta

(dizem)

E nos teus cabelos

As luas de Saturno

Envergonhadas

E Titã…

Entre beijos e poeira…

  

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 31 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:17

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