A barca desgraçada
Recusa-se a regressar
Inventa palavras
Desenha gemidos nas pedras
Vãs
E cansadas
A barca
Não
Sabe
O horário da morte
Finge dormir debaixo de uma lápide
De espuma
Canta a cidade
Os húmidos sorrisos da madrugada
A barca
Desgraçada
Recusa-se
Regressar
Aos teus braços
Ao teu corpo
Noite
Cama
A janela enclausurada nas tuas mãos
Mão
De veludo
As cabeças dos ventrículos de vidro
Nas fretas da insónia
Há sonhos
Há… há um esconderijo no teu peito
Os olhos te prendem
E não consegues liberta o sofrimento
Adeus
Ontem
A mão
De veludo
Recusa-se
A beijar-me
O vício curvilíneo dos telhados de zinco
As crianças lançando bolas de farrapos
Em chamas
Balas
A espingarda do silêncio
PUM…
Nas camufladas salas de jantar
O cadeirão sem pressa para descansar
Cerra os prateados ombros
Deita-se
Deita-se nas linhas transversais do infinito
Não
Espero
Nada
Teu
Olhos
Mãos
Mão
Não
Há
Suicídio nas tuas coxas
A claridade dilui-se docemente na tua boca
Finas
Cores
Da tela em supérfluas marés de medo
O sono
E a alma de não ter alma
Desamadas
As flores do jardim do último beijo
A última carícia do teu perfume
As calças de ganga
Sentadas no cadeirão em fuga
E depois de terminarem os cigarros
Nada
Hoje
Finjo e fujo
Saltando o muro dos teus lábios…
E nos teus lábios
STOP
O vermelho semáforo envenenado na tua pele
Os pregos
Os sítios obscuros do teu corpo
Dançam e cantam
Hoje
Não
Mão
Mãos…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Abril de 2015