Estou cansado da esperança
Deixei de acreditar no sorriso fictício da madrugada
Sinto o teu sofrer
No meu sofrimento
De te perder
De não conseguir achar-te
Nas ruas desertas da minha cidade
Estou triste
Meu querido
Sofreres
E eu
Impávido
Escrevendo palavras
Inventando amores
Para esquecer a tua dor
Desenhando flores…
Flores… meu querido
Que vão alimentar a tua lápide
Não tenho coragem de desiludir-te
Invento estórias
Para adormeceres
E acreditares que existe madrugada
E que amanhã estarás vivo
Mas percebo o quanto é difícil
Mentir-te
Escrevo-te
Meu querido
Sabendo que amanhã é outro dia
Sem endereço no calendário
O oculto desejo de caminhares sobre os rochedos da insónia
Sabes que não aguento mais este sofrimento inválido
Nos cigarros fumados num jardim com odor a morte
Nunca tive sorte
Nem vontade de lutar
Sou fraco
Meu querido
Choro em silêncio
E pareço uma estátua em granito
Finjo
E minto-te
Mas não acredito
Deixei de acreditar
Quando vejo a tua vida
Escoar-se numa conduta sem saída
Às vezes
Sinto as tuas mãos nas minhas mãos
Víamos os barcos no porto de Luanda
E hoje
Não Luanda
E hoje
Não barcos
Estou cansado da esperança
E das esquinas sombrias da melancolia
Estou cansado do meu corpo envolto de abelhas
E do pólen envenenado pelas madrugadas de sofrer
Não me ouves
Meu querido
O dia deixou de pertencer aos Luares nocturnos dos visitantes sem nome
Nunca me esqueço
Dos sonhos alicerçados nos teus cabelos
Caducos
Inexistentes
E hoje
Percebi a tua agonia
Nas vagas de espuma do silêncio
Que o mar engole em cada amanhecer…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 22 de Abril de 2015