Fiquei sem palavras
Entre três paredes de nada
Esqueci como se vive
Porque perdi-me na estrada
E o sol
Deixou de brilhar na minha aldeia
Tenho saudades
Pai
Dos Musseques
E das gaivotas
Do Mussulo
E dos machimbombos
Em rodopio silêncio
Percorrendo ruas de uma cidade inventada
E a carta
Nunca regressou
Nem vai regressar
Às tuas mãos
O barco que nos trouxe
Levar-te-á
Até ao infinito Oceano do Adeus
Como uma rocha de sílabas envenenadas
Descendo lentamente o papel húmido da madrugada
Tenho medo
Pai
Dos cinco pilares de areia
Que desenhavas na minha mão
Ao pôr-do-sol
Os barcos
E os marinheiros quando brincavam no teu olhar
Nocturno
Viajante
Dos destinos indesejáveis
O ferro em brasa no teu sofrimento
Tenho medo
Pai
(Pai
Dos Musseques
E das gaivotas
Do Mussulo
E dos machimbombos
Em rodopio silêncio)
Como só a morte o sabe fazer…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 9 de Maio de 2015