Sinto as garras dos teus ossos no pano encarnado da minha solidão,
Quero fugir do teu olhar,
Sem sorrir, nunca sorrir…
Partir,
Em direcção ao mar,
Descalço,
Bandido…
Anexo perdido sobre uma secretária de vidro,
Hoje,
Partir,
Sentir dentro de mim a alegria do luar,
Quero,
Sem sorrir…
Partir,
Fugir dos teus lábios,
Afogar-me nas tuas coxas rochosas,
Quero,
Sentir,
Partir…
Fugir…
E sinto,
E minto,
Às amoreiras em flor
E às pedras chorosas,
E sinto, meu amor,
Que a terra é uma lápide de lágrimas,
De dor,
E pedras preciosas encharcadas…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 7 de Agosto de 2015
(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Sinto-me um abutre sem dono
Margaridas, meu amor, margaridas no teu corpo,
Margaridas em sono,
Em flor,
Em dor,
Sinto-me um transeunte vestido de negro,
Confundindo-me com a noite,
Quando a noite era apenas um desenho incógnito,
Sou a luz da escuridão iluminada,
Margaridas, meu amor,
Margaridas na esplanada,
Margaridas sem nada…
Oiço a tua voz envergonhada,
Sinto o teu corpo recheado de amendoeiras,
Margaridas, meu amor,
Margaridas… margaridas entranhadas nas videiras,
Quando tínhamos as janelas encerradas,
Não existiam madrugadas,
Margaridas, meu amor, margaridas roubadas,
Margaridas em ti assassinadas.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 7 de Agosto de 2015