Partirei sem desenhar o meu nome na alvorada fantasma da vida,
Partirei sem deixar uma sombra deitada na manhã,
Partirei sem vontade de regressar,
Partirei como um sonâmbulo ambulante pernoitando de festa em festa,
Nos lábios do luar,
Partirei descendo a avenida
Que me levará até ao esconderijo da agonia,
Partirei apaticamente para o outro lado da rua,
Sentar-me-ei até que o meu corpo desfaleça,
Tudo esqueça,
A doença,
A amargura
E a tristeza,
Partirei deixando um prato de sopa dormindo em cima da mesa,
Falarei baixinho,
Dócil…
Para ele não me ouvir,
Só me faltava a mim
Levar comigo um prato de sopa,
Uma colher…
E um pedaço de pão
Para alimentar a solidão,
Assim… não saberei partir…
Partirei sem levar os livros,
As músicas mais desejadas,
Partirei deixando na fogueira todas as cartas,
Todas as palavras,
Que nunca deveria ter escrito…
Partirei,
Partirei vestido de pedinte,
Cambaleando contra os candeeiros da saudade,
Não, não vou levar comigo a felicidade…
Porque partirei de livre vontade,
Ao amanhecer,
Sem ninguém saber,
Partirei,
Partirei e deixar-me-ei envelhecer…
Até morrer.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 21 de Agosto de 2015