Inventaram este suicídio para me acorrentarem aos muros invisíveis da alma,
Trouxe da vida as palavras e a noite,
Trouxe da noite
A luz incandescente dos corpos suspensos na alvorada,
Não tenho medo da solidão,
Nem medo de sofrer,
Não tenho medo da fogueira madrugada…
Brincando na minha mão,
Acaricio-te o rosto envenenado pela dor,
Inventaram-me este suicídio para me roubarem o sono
E as montras iluminadas da cidade,
Caminho abraçado ao vento…
Caminho procurando as montanhas sonolentas da paixão
Que só tu sabes onde se escondem,
Que só tu sabes o seu nome,
Inventaram-me este suicídio para me acorrentarem aos muros invisíveis da alma,
Vestiram-me de mendigo,
Venderam-me na “Feira da Ladra”…
E hoje pareço o luar alimentado pela tristeza,
E hoje pareço um amontoado de ossos envergonhados
Esperando o varredor nocturno do silêncio,
Esta cadeira onde te sentavas…
Parece um rochedo recheado de lágrimas,
Uma praia encalhada nas tardes de papel celofane
Onde apenas tu brincavas,
E da noite…
Trouxe também o embriagado olhar com que me olhavas.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 23 de Agosto de 2015